segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Os alertas da OXFAM à liturgia de Davos

A liturgia anual de Davos repete-se nos próximos dias 22-25 de Janeiro. Trata-se de uma autêntica liturgia, no sentido etimológico da palavra e na natureza característica do evento: “História de serviço público, religioso ou cívico, prestado pelos cidadãos mais ricos na antiga Grécia.”
O ‘Fórum de Davos’, este ano, é dedicado ao tema:
“A reformulação do Mundo: Consequências para a Sociedade, Política e Negócios.”
Cientes de que o citado ‘Fórum’ é das acções mais hipócritas que grupos de poderosos reeditam na localidade usada como cenário na obra ‘A Montanha Mágica’ de Thomas Mann, reforçam a perfídia através do tema escolhido, com asserções de enorme falsidade, como a seguinte:
Trata-se de uma declaração que, a nível superficial mas real, é equivalente à resposta obtida do bancário ou do trabalhador das finanças, se formos reclamar contra um erro: - Desculpe, foi do sistema mas vamos rectificar rapidamente. – É o que nos dizem.
Estudada e reflectida mais seriamente, a frase tem pano para mangas. Sim, dizer ‘as forças tecnológicas estão transformando as nossas vidas’ é em simultâneo ambíguo e verdadeiro - ambíguo, como hábil estratagema de ser inclusiva e igualitária para todas as vidas, do multimilionário ao mais indigente; verdadeiro, no sentido em que as novas tecnologias, no domínio da comunicação financeira e de negócios por meios electrónicos, afectam realmente a vida de todos, só que de forma muito selectiva aumenta a riqueza de escassíssima minoria, multiplicando, em contrapartida e exponencialmente, a precariedade, a exploração, a pobreza e a miséria de milhões de outras vidas humanas.
É, de resto, esta última conclusão que se extrai do texto da Oxfam, citado pelo ‘Público’ e dirigido precisamente a Davos. Destacam-se alguns trechos:
· … as 85 pessoas mais ricas acumulam tanta riqueza como a metade da população mais pobre do planeta junta;
· … na Índia o n.º de multimilionários aumentou dez vezes na última década;
· … na Europa foram impostas medidas de austeridade que afectam as classes médias e pobres.
Chega e quem estiver interessado pode ler o documento em castelhano.
Estou convicto que a acção e os argumentos da OXFAM constituem um trabalho louvável; mas, parece-me ingénuo congeminar resultados robustos e rápidos para os mais desfavorecidos pela falta de humanismo.
Portugueses presentes serão estas dez estrelas. Fico, porém, na dúvida se não acabarão por ser apenas nove, dada a ‘corrida em osso’ de Henrique Castro da Yahoo, ao fim de pouco mais de um ano de actividade; tempo, porém, suficiente para ter encaixado uns milhões largos.










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