Cara ou coroa? Nesta fase do jogo
da programa de “ajuda” da ‘troika’ é pergunta equivalente aqueloutra (‘programa
cautelar’ ou ‘saída limpa?’) que muitos formulam, os governantes portugueses
não debatem externamente e, em jeito de maior apropriação da nossa soberania já
de si condicionada, as opiniões da Alemanha, dos ‘lobbies’ de Bruxelas e dos
membros do Eurogrupo dividem-se pelas duas alternativas.
Sublinhe-se que, entre os “amigos
da onça” da Zona Euro, os critérios de escolha não se fundamentam em condições
mais vantajosas para Portugal. Baseiam-se, isso sim, nos interesses dos
próprios países e em opiniões também interesseiras de individualidades de que o
‘Público’
nos dá conta. Destacamos os seguintes exemplos:
- · A ‘saída limpa’ é a preferência da Alemanha e países nórdicos – que incomodativo a Sr.ª Merkel e PM’s com ela alinhados terem de justificar perante o Tribunal Constitucional alemão e/ou parlamento a operação de apoiar Portugal com um ‘programa cautelar’!
- · A França e Oli Rhen alinham pelo ‘programa cautelar’.
- · Verifica-se ainda o ilegítimo objectivo de influenciar o comportamento do PS, pretendendo-se impor aos socialistas, como membros do ‘arco da governação’, um consenso com PSD e CDS sobre a estratégia orçamental para os próximos dez anos.
Esta última opção, além de repugnante
intromissão no funcionamento do sistema político do Estado Português, é defendida
por fonte anónima – e, nestas coisas de decisões estratégicas, o papel do
anónimo é normalmente nefasto para os países dependentes de instâncias
internacionais, como é o nosso caso.
O presidente do Eurogrupo, Jeroen
Dijsselbloem, com a experiência académica de agrónomo, habituado a calendarizar
os tempos de plantios e colheitas, é, involuntariamente, mais pragmático, ao
afirmar:
Trataremos dessa decisão mais tarde, em Março ou Abril, tendo em conta também os últimos desenvolvimentos, (designadamente) o acesso aos mercados…
Ou seja, Dijsselbloem, inadvertida
mas oportunamente, deixou a mensagem de que em função do registo climático em
Portugal no início da Primavera, logo se verá se haverá sol ou chuva e
consequentemente sair-se-á à rua com tempo ameno ou limpo ou, então, bem
coberto por um ‘programa cautelar’ a servir de gabardina.
O mais intrigante é constatar que,
centrando-se o debate em torno da saída do maldito programa da ‘troika’, a
intervenção externa de governantes portugueses é pouco mais do que insípida – os outros
decidirão e bem por nós, pensarão eles.
Todavia, este confronto entre
´saída limpa’ ou ‘ programa cautelar’ é efeito de, desde sempre, o governo ter
andado a ufanar-se com o slogan “somos a Irlanda, não somos a Grécia”. Como a
Irlanda teve condições e deliberou ‘sair limpa’, a escolha de alternativa
tornou-se mais complexa para os portugueses. E justamente porque não somos a
Irlanda nem a Grécia, as nossas condições políticas de regresso ao mercado, se
melhores do que as dos helénicos, serão muito mais dispendiosas do que as taxas
de juro cobradas pelas obrigações portuguesas.
Tome-se em consideração o
seguinte quadro:
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(Para confirmar taxas de juro: 1) 'click' numa taxa portuguesa ou irlandesa 2) 'click' na opção 'Cotações' e dentro desta caixa 'click' em Obrigações; 3) na caixa 'Todos os Países', abrir e seleccionar Portugal e 'click' em Pesquisar no lado direito; 4) repita idêntico procedimento para seleccionar Irlanda)
A comparação demonstra como, pelo mesmo tipo de empréstimos, pagamos muito mais do que a Irlanda e desmistifica a ideia lançada para a opinião pública de que apenas os nossos juros é que estão em baixa. Mais, o movimento das taxas de juro, como se sabe, é volátil e, daqui até Abril, percentagens certas só no tempo próprio.
Ouvi hoje na SICN, Octávio Teixeira dizer que a saída"limpa" implica uma taxa de juro mais elevada do que a taxa do programa cautelar.A ser assim os vendedores da pátria se os deixarem, farão a opção pela saída "limpa".Esta gente é raçada de germanofilos. Continue a desmascarar o wc. Um abraço
ResponderEliminarCaro Adelino,
EliminarDe facto, Octávio Teixeira, ex-quadro superior do Banco de Portugal, tem inteira razão. "Saída Limpa" significa ir aos mercados directamente, sem o 'respaldo' de instituições supranacionais - FMI, CE ou BCE, p.e. . Portanto, as taxas de juro aumentam porque os investidores consideram haver maior risco se o candidato a financiamento, Portugal, não se apresentar sob a protecção de aval de entidades habilitadas a cobrir situações de eventual incumprimento.