Li e classifico de genericamente positiva a entrevista de António Costa ao 'Público'. Demonstra coerência em relação a várias mensagens da campanha eleitoral; campanha esta que, disse e repito, deveria ser sido mais enérgica.
Também sei que Costa esteve muito entregue a si próprio nas digressões que fez pelo País - os apoios de Ana Catarina Mendes, Carlos César e Pedro Nuno dos Santos concentraram-se, acima de tudo, na fase de negociações com BE, PCP e PEV. A formação da maioria parlamentar tem igualmente especial mérito destes três socialistas.
Voltando ao conteúdo da entrevista, e sem me deter em pormenores com que concordo ou discordo, destaco duas breves passagens:
1)
Pergunta dos jornalistas: Como vê a actuação do Presidente desde as eleições?
Resposta de A.C.: O primeiro-ministro não avalia a actuação do Presidente.
Resposta curta, sagaz e inteligente. Em sintética afirmação, o PM voltou a colocar à distância o inquilino do Palácio de Belém no que respeita à relação institucional com governo, o qual, tem sublinhado Costa, depende da AR. Não de um PR em fim do 'prazo de validade' e de poderes felizmente limitados.
2)
Frase de A.C. em resposta à 6.ª pergunta: E percebo que a direita esteja irritada e respeito até algum azedume.
Na 'realpolitik', não há espaço para questões de ordem ideológica, muito menos para pensamentos ou divagações de ordem ética ou moral. Shakespeare, no legado cultural deixado ao mundo, integrou algumas frases que se celebrizaram. Eis uma delas: "O diabo pode citar as Escrituras quando lhe convém."
Os cavalheiros da PàF, a decorar a governação do louco empobrecimento dos portugueses, usaram uma arrogância infame ilimitada. Quisessem ou não, Passos Coelho e Paulo Portas, devido à maioria relativa saída das eleições, perderam toda a capacidade de prosseguir na arrogante e leviana atitude de repescar o PS para se tornar um partido submisso e maleável aos desígnios do PSD+CDS. De resto, o presunçoso Coelho, a 14 de Outubro, afirmou categoricamente que não teria mais conversações com o PS.
Que reacção mais pertinente poderia ter tanta arrogância que, lembre-se, durou 4 anos? A resposta tão delicada quanto hipócrita que António Costa lhes deu no 'Público': "E percebo que a direita esteja irritada e respeito até algum azedume." É uma pequena humilhação das muitas e enormes de que a direita se fez merecedora.
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