O esgoto, a latrina, a cloaca do Congresso brasileiro, assim baptizado e
deixado à nossa opção por Alexandra Lucas Coelho (jornal ‘Público’ de 24-Abr-2016),
dilatou e capturou o Senado. Este órgão igualmente hediondo, por 61 votos contra
20, retirou o mandato a Dilma Rousseff, primeira mulher eleita presidente do
Brasil.
A verdadeira causa do pedido de invalidação do mandato – impeachment – suporta-se,
e essa é a realidade autêntica, na deliberação de Dilma favorável ao
prosseguimento do ‘Lava-jacto’ e de outros processos judiciais de corrupção sobre
elevadas figuras do Estado. De entre estas, num total de dezenas de
congressistas e senadores corruptos, além do presidente Temer, ontem empossado,
sobressaía Eduardo Cunha, presidente demitido do Congresso. Cunha cometeu
crimes de lavagem de dinheiro e de corrupção passiva, recorrendo à transferência
de milhões para contas, suas e de familiares, na Suíça.
O sinistro Cunha retaliou contra Dilma, na referida cloaca, com um duplo processo
de invalidação do mandato e de perda de exercícios de cargos públicos.
Hoje, no Senado, Dilma perdeu o mandato, permanecendo, todavia, a usufruir dos
direitos ao exercício de cargos públicos.
Para Temer, impedido de candidatar-se por indícios de corrupção, ainda
restou um amargo de boca intenso. O presidente do Senado, Renan Calheiros, ao criar
votações separadas para ‘a perda do mandato’ e ‘a perda dos direitos do
exercício de cargos públicos’, criou, de facto, em Temer uma decepção sem
limites, assim como a uma fracção significativa dos membros do PMBD, do
Congresso e Senado – 42 votos contra Dilma, na votação dos direitos, foram
insuficientes.
A corrupção, portanto, deu um golpe na Democracia do Brasil, mas parte
significativa da população, incluindo artistas e intelectuais, revela-se
disposta a fazer da luta contra Temer, o governo presidencial e acólitos uma
batalha incessante de contragolpe de sentido democrático.
No futuro próximo ou longínquo, ou em ambos, a vida política e social no
Brasil será de perturbação continuada, a não ser que, entretanto e na extensão
dos fortes contingentes policiais já utilizados, o exército tome parte no
conflito. E das forças armadas a ordenar e condicionar a governação, parte do
povo do Brasil, fora os mortos e desaparecidos durante a ditadura militar, retém
na memória o sentimento e imagens dessa dura e longa punição.
Sem comentários:
Enviar um comentário