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sábado, 8 de novembro de 2014

Relembrar Jorge Amado, Dona Canô e a Baía

A notícia da transformação da antiga casa de Jorge Amado em Centro Cultural trouxe-me à memória a minha visita a São Salvador em 2000. Estive próximo da residência do imortal escritor. Estava já bastante doente. Alguém me avisou que a mulher, Dona Zélia, pedia aos portugueses que o visitassem que não referissem a morte de Amália Rodrigues, em Outubro de 1999. Jorge Amado, na solidez da amizade, tinha por Amália uma estima e admiração infinitas.

De todas as cidades brasileiras que conheço, e são diversas, sempre reservei a São Salvador um local especial no fundo do coração. A amálgama do misticismo religioso de Orixás e catolicismo, Jorge Amado, Vinicius, Dorival Caymmi, Dona Canô e seus filhos Bethânia e Caetano, Gal Costa e mais uma infinidade de baianos incrustaram-se-me na alma até sempre.

Da obra de Jorge Amado, vem-me à memória o romance 'Capitães da Areia', o chefe do grupo Pedro Bala, a malograda Dora, grande paixão de Bala, o Sem-Pernas, o Professor, o João Grande e tantas outras crianças, abrigadas num trapiche, perto da praia. Todos órfãos de pais e da sociedade que os desprezava e hostilizava. Jorge Amado foi um escritor que, em cada frase, tinha o privilégio de nos fazer ver em palavras o que outros nem sequer em imagens conseguem transmitir.

A Jorge Amado, a Dona Canô e aos inúmeros baianos que transmitiram ao mundo a arte, a música e a cultura da Baía, presto singela homenagem através da publicação da canção "Oração de Mãe Menininha do Gantois", interpretada por Dona Canô, Maria Bethânia e Caetano Veloso. 



'Mãe Menininha do Gantois' era Maria Escolástica da Conceição Nazaré, mãe-de-santo, filha de Oxum.

  


sábado, 29 de dezembro de 2012

Adeus a D. Canô, agora escrito

Ao saber da sua partida a 26 de Dezembro, um dia após a Consoada passada com os sete filhos mais os netos, emocionei-me. Despedi-me de si intima e solenemente.
Senti-me, é óbvio, solidário com a Bethânia e o Caetano. Lembrei a ‘Oração da Mãe Menininha’, cantada com a Senhora e que Dorival Caymmi escreveu assim: 

Oração de Mãe Menininha

Ai! Minha mãe
Minha mãe Menininha
Ai! Minha mãe
Menininha do Gantois

A estrela mais linda, hein
Tá no gantois
E o sol mais brilhante, hein
Tá no gantois
A beleza do mundo, hein
Tá no gantois
E a mão da doçura, hein
Tá no gantois
O consolo da gente, ai
Tá no gantois
E a Oxum mais bonita hein
Tá no gantois
Olorum quem mandou essa filha de Oxum
Tomar conta da gente e de tudo cuidar
Olorum quem mandou e ô ora iê iê ô


Esta ‘oração’ foi criada por Caymmi em honra da Ialorixá (mãe-de-santo) mais famosa do Brasil, de verdadeiro nome  Escolástica Maria da Conceição Nazaré, nascida em 1894. Dirigiu um terreiro, espaço sagrado do Candomblé, em anterior propriedade de um francês, Gantois.
Como senti, de forma intensa, o aroma, a atmosfera e o pulsar de réplicas, reminiscências e pinceladas de África, na cidade mais africana do Brasil, S. Salvador -  coincidentemente com forte imagem portuguesa, no traçado de ruas e casario da 'Baixa do Sapateiro'. E como fiquei a entender que Candomblé é imanente da vida baiana; é impossível viver sem Orixás, divindades ou semideuses criados pelo ‘Ser Supremo’ Olarum.
Eu sou amante fervoroso da Baía, de Dona Canô, de Bethânia, de Caetano, de Jorge Amado, de Vinícius, de Caymmi, de Gal e de muitos, muitos mais baianos que partiram ou permanecem neste mundo. - O que é que a Baía tem? – interrogo-me eu também.
Adeus Dona Canô. Está no Céu, de certeza. O poeta Manuel Bandeira imaginaria deste modo a chegada: “São Pedro disse: - entre Dona Canô, a Senhora não precisa de pedir licença.-”