O empenho do inquilino do Palácio
de Belém, em sucessivas e entusiásticas manifestações de amizade junto do
homólogo de Luanda, tem servido de estímulo e impulso ao “estreitamento” de
relações entre sociedades portuguesas e angolanas – ou dito de forma mais
clara, com a filha mais velha de José Eduardo, Isabel, e mais meia-dúzia de
poderosas figuras da oligarquia angolana; casos do general ‘Kopelika’ e do
famoso Sobrinho que liderou o BESA até ao naufrágio do BES e do GES com o outrora poderoso Ricardo Salgado no comando.
Sob a orientação superior de
Paulo, filho do ‘digno’ e ‘decoroso’ Belmiro, a Sonae decidiu
desenvolver e aplicar um plano estratégico para lançar o negócio dos
hipermercados ‘Continente’ em terras angolanas, em parceria com Isabel dos
Santos.
Paulo tramou-se e agora
lamenta-se da fuga de dois quadros, ao que se percebe, com funções cruciais no
projecto em causa. Miguel Osório e
João Seara, assim se chamam segundo o ‘Público’,
traíram e abandonaram o patrão Paulo, a fim de trabalhar directa e
exclusivamente para Isabel dos Santos.
Na mesma onda dos promotores portugueses dos investimentos no
BESA e da PT, esta última com a Unitel dominada
por Isabel, e de outras empresas cuja listagem seria demasiado exaustiva, a
Sonae, certamente, foi alvo de uma golpada que não me causa a mínima
perplexidade.
É do conhecimento geral que o mundo dos supernegócios de
Angola, onde impera a filha do presidente daquele País, é caracterizado pela volatilidade
dos compromissos dos empresários locais, sobretudo os poderosos. Quando a esse
fenómeno se combina com a vulnerabilidade e quebra dos preços do petróleo,
então estamos conversados…
De facto, Paulo de Azevedo, à semelhança de outros gestores qualificados
com cinco e seis estrelas, cometeu o erro elementar de ignorância da qualidade
da parceria e do país anfitrião. Agiu com falta de segurança e desprezou riscos
das parcerias com membros da oligarquia angolana, robustecendo a incompetência mediante
a selecção de dois colaboradores de alto nível, mas infiéis.
Este e outros episódios prestam-se também a revelar que, do
ponto de vista teórico, grandes empresários e membros próximos de ‘staff’ revelam
desconhecimento da bicentenária teoria de Adam Smith da ‘liberdade do mercado’,
centrado no seguinte pensamento:
“[Adam Smith descreveu a auto-interesse e da concorrência
em uma economia de mercado como a "mão invisível"]”,
Isto, justamente, quando é corrente na economia
global em voga, o sentido neoliberal se fundamentar nos citados conceitos
básicos da tal «mão invisível’. Por
um e por outro lado, pura e simplesmente, à superestrutura da Sonae nem lhe
passou pela cabeça assegurar-se a tempo com mecanismos legais preventivos, para
acção em tribunal internacional. Sim, porque no sistema de justiça angolano nem
uma causa será ganha por entidade estrangeira contra a filha do presidente
Eduardo dos Santos, mesmo que a razão penda integralmente para o seu lado.
No fim de contas, e talvez impelido por sentido
de revanche, penso que quem amontoa fortunas a pagar salários de 500 euros
brutos, para trabalho a tempo inteiro, ou 250 euros, a meio-tempo, a muitas
centenas de concidadãos, assim como a explorar os fornecedores mais frágeis com
preços deprimidos e prazos de pagamento alargados; penso que quem assim actua, dizia, umas vezes merece suportar o alto custo de ser burro em terra estrangeira.
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