segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Os apalpões narrados pelo Prof. Marcelo

Ontem na TVI, o Professor Marcelo, rei da retórica e dos argumentos trabalhados com tal presteza que parecem infalíveis, teve uma saída ao estilo de revista, o ‘vaudeville’ à portuguesa, do velhinho Parque Mayer – agora, por decisão judicial, geminado com a Bragaparques.
Na dissertação semanal, o distinto prelector – confesso que assim o considero – a certa altura meteu-se por caminhos de apalpação e afirmou:
É consabido que nestas questões de linguagem, em português e noutros idiomas, há afirmações, umas mais do que outras, que se prestam a especulações ridicularizáveis – de Passos a apalpar o “pulso” a Portas e este não sentir, podemos extrair, pelo menos, uma de duas conclusões: “ou Passos apalpa mal, ou Portas é insensível nos pulsos’.
Seja como for, é sempre possível escarnecer politicamente da afirmação de Marcelo, mesmo sabendo que entre este e o par formado pelos dois governantes existe uma relação histórica de grande aversão.  
Entre vários autores, que glosaram o tema, retive um soneto que me foi enviado por um amigo:

Marcelo exibia-se a charlar
De súbito, da boca sai-lhe o apalpão
Um comentário de fazer pasmar
Um milhão d’espectadores de televisão.

A dona Rosalina no sofá se agitou,
Temos aqui ‘Casa dos Segredos’?
A mulher bufou, o gato miou, o cão ladrou
Num alvoroço de reles enredos.

O discurso publicitou um real mistério,
O primeiro lança a mão para apalpanço
O vice, insensível, finge não perceber.

Quem tem as condições disto julgar a sério
É o pobre povo sujeito ao brutal gamanço
De impostos e os cortes no pouco a receber.



[de poeta anónimo]

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