quinta-feira, 6 de julho de 2017

Mariana Mortágua estende a mão à direita

Mariana Mortágua é economista de qualidade. Demonstrou-o em várias ocasiões, mas a mais exuberante de todas foi a participação na comissão de inquérito parlamentar ao BES.
É obviamente uma mulher inteligente. Mas, como dizia muitas vezes um amigo meu 'carioca', mesmo os mais sábios e inteligentes têm uma zona de estupidez no cérebro. Poderá não ser o que se passa com ela. Todavia, parece-me que se trata de um caso de mesquinhez do ego, segundo os princípios do pensamento do hinduísmo.
Huston Smith, em 'A Essência das Religiões' e ainda a propósito do hinduísmo, escreveu: "Ao apoiar ao mesmo tempo a nossa vida e a vida dos outros, a comunidade tem uma importância que nenhuma vida individual pode assumir. Vamos então transferir para ela a nossa dedicação, concedendo às suas exigências prioridade sobre as nossas." É justamente neste sentido que Mariana Mortágua deve pensar e orientar as suas intervenções políticas. Mas, fez objectivamente o inverso na Comissão de Orçamento e Finanças, ao exigir a Mário Centeno que, ministério a ministério, o Governo especifique as cativações de 2016 e 2017. A direita exultou de alegria e  entusiasmo com a exigência da bloquista.
Mariana Mortágua sabe que o governo de António Costa não firmou, mas herdou o 'Tratado Orçamental' da UE que impõe limites ao défice e duras regras orçamentais; sabe também que a dívida pública do País é enorme e que a contenção do défice por Centeno já se repercutiu favoravelmente nos custos do serviço de dívida (juros); conhece também que, para equilíbrio das contas públicas, é preferível criar desenvolvimento económico sustentável, mas que este é o caminho mais difícil por escassez de meios para investimento, restando ao governo opções financeiras para a melhoria das contas públicas. 
Mariana sabe tudo isto e muito mais. E politicamente deve estar sempre consciente do que sucedeu na Grécia com o  seu ex ou ainda aliado Syriza. 
O BE apoia no parlamento o governo actual, que está, de resto, a viver um momento muito difícil, fruto de acontecimentos graves e de responsabilidades próprias. Acima de tudo, Mariana Mortágua deveria ter aprendido a lição de, no passado não muito longínquo, BE e PCP terem escancarado as portas do poder à direita neoliberal do PSD e CDS, com as pesadas consequências que se conhecem. O povo, na grande maioria, não quer regressar a tamanho sofrimento dos cortes salariais, de pensões e de outras prestações sociais. 
O BE, sabe-se, mantém um diálogo permanente com o governo. O pedido de Mariana deveria ter sido formulado nesses encontros. 
Jamais PSD e CDS, coligados no governo, deram tal espectáculo. Houve o caso da demissão irrevogável de Paulo Portas, mas, com a mão de Cavaco, não passou de um curto episódio de comédia.

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