Barroso chegou ao fim. Dez anos
de funcionalismo oxidado na UE. O apego ao lugar, e naturalmente aos benefícios,
levou-o à intragável posição de subserviência a poderosos directórios europeus –
as obrigações do cargo, lembre-se, exigiam neutralidade e a defesa do interesse
comum dos países da União.
Começaram por ser 15 no início do
mandato. Aumentaram para 28, sob cedência cruel e humilhante aos interesses dos
mais fortes, em especial da Alemanha. Os objectivos dos germânicos na
exploração dos mercados do Leste, libertos pelo desmantelamento da União
Soviética, constituíram reais oportunidades do expansionismo da indústria
alemã, a montante e a jusante, de valor económico considerável.
Com recurso a contrastes, é
inimaginável pensar que Jacques Delors cederia perante tais interesses. Todavia,
Barroso, um ‘pau mandado’ segundo Miguel Sousa Tavares, com quem concordo, não
passou daquilo que no funcionalismo há de mais reles: a subserviência a directórios,
o primeiro composto pelo duo Merkel e Sarkozy e, em fase posterior, no papel de
títere do poder germânico, de Merkel e Schäuble.
O herdeiro, Jean-Claude Juncker, nas
aparências, esforçou-se, perante o PE e dirigentes da UE, por se destacar do
antecessor e do passado. Todavia, sem necessidade de análise e reflexão
refinadas, até ao momento é impossível concluir que programa e pragmatismo o
luxemburguês aplicará para solucionar o estado calamitoso, desconforme e sem
coesão em que Barroso, a mando da Alemanha e aliados, deixou a UE. Ou seja, abandonou a Zona Euro no caminho directo e célere para a deflação, a qual, a prosseguir
ao ritmo registado no último ano, corresponderá ao trajecto para uma crise que
só encontra paralelo na grande de depressão dos anos 30 do século passado. A
consumar-se, por inércia, este cenário, o colapso do euro será inevitável.
Mário Draghi, a despeito de
algumas críticas que lhe possam ser feitas, tem-se batido por compromissos e
soluções para defesa da moeda única. Todavia, com a insistência da Alemanha em
modelos de austeridade e a recusa de atribuir ao BCE o papel de credor de
último recurso, ou da capacidade de estimular a economia através da compra
directa de títulos de dívida soberana (programa semelhante ao ‘quantitative easing’ dos EUA), a
economia europeia, geradora de um quinto da produção mundial, estará
inevitavelmente condenada à estagnação e à deflação.
Outros problemas, o desemprego
jovem com taxas acima dos 35% em diversos Estados-Membros, incluindo Portugal,
levarão o ‘Velho Continente’ a atravessar, uma vez mais, uma fase negra da sua
História – duas grandes guerras no Séc. XX, na segunda das quais os alemães se
livraram perdoados e beneficiados, parecem, inacreditavelmente, não constituir
motivo suficientemente forte para uma reflexão do Centro-Norte da Europa sobre
a solidariedade, a consecução da coesão social e do projecto de tranquilidade e
convivência pacífica entre povos; povos estes de diferenças culturais óbvias,
mas de interesse comum na justiça do bem-estar colectivo que o mundo actual, mesmo e
sobretudo pela globalização, lhes deveria garantir.
A continuar submetidos às
políticas actuais, o insucesso é inevitável. Tenho fundadas dúvidas de que, sem medidas
ultra-reformistas, diria mesmo revolucionárias, e a adesão da Alemanha a um
projecto solidário, Juncker consiga conciliar e fazer cumprir políticas de
disciplina orçamental, a solução de altas dívidas públicas, a redução do elevadíssimo
desemprego e a eliminação de outras discriminações e causas económico-sociais e
financeiras complexas.
O mais provável é dentro de algum
tempo os europeus, da Zona Euro ou mais dilatadamente da UE, estarem
confrontados com a gangrena da deflação e o alastramento da pobreza e da
miséria. Diz a CE, nas palavras de Juncker:
Oremos! Como recomendaria o pároco da aldeia.
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