sábado, 31 de dezembro de 2016

‘Réveillon’ da Sociedade Recreativa e Musical de Ribeira dos Olivais

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Um optimista deve ser realista. Nos contactos sociais, no ‘Facebook’ e nas redes sociais em geral, predomina a frase Bom Ano de 2017. Desejos e votos são generalizados. As heranças de 2016 – Síria, mortes no Mediterrâneo, atentados, eleição de Trump, ameaças de acesso da xenofobia ao poder em eleições na Europa, incremento, em relação a 2015, de 237 mil milhões de dólares das fortunas de umas dezenas dos multimilionários do planeta … - as heranças de 2016, dizia, são tão onerosas e consistentes que me deixam céptico quanto a 2017.
Efectivamente, é imperioso interrogar de que milagre a humanidade beneficiará, de modo a que, à meia-noite de todos os países à volta do Planeta, em uníssono, possam vir a desfrutar da maravilhosa melodia de que, em 1 de Janeiro de 2017, desponta um novo e feliz Mundo? Os mais frágeis do mesmo Mundo (crianças, mulheres, idosos, em especial) continuarão a ser vítimas, aos milhões, à volta da Terra. É a minha convicção, por muitos fortes e sentidos que sejam os desejos de um ‘Bom Ano’.
Sem esquecer os sofrimentos no Oriente longínquo, do Médio-Oriente e nas consideradas potências Ocidentais, entendo que, nada de novo e influente na melhoria das grandes causas humanitárias, se modificará. Optimista contrariado, penso: 2017 será certamente pior ou no mínimo igual a 2016.
Tenho, pois, de conformar-me ao refúgio da pequena vila onde faço a passagem de ano. Uma comunidade de 1.500 pessoas, na estrondosa maioria de idade avançada. Sem pensar nas ralações e infortúnios do dia-a-dia, vividos com tristeza, reencontram a alegria no Réveillon da Sociedade Recreativa e Musical de Ribeira dos Olivais.
Há baile, petiscos e copos. As senhoras, numa noite em trezentas e sessenta e quatro, vestem os vestidos de tafetá, carregados de naftalina, e envolvem-se em ‘écharpes’ de tule. Vestuário do tempo de jovens mães, quando baptizaram os filhos. Eles, de fato e gravata, usam pela enésima vez a indumentária ancestral com que se divertiram em festas de há muitos anos; os tecidos estão puídos, tão brilhantes como os sapatos engraxados.
O ano novo, para esta gente, cinge-se à felicidade de vestir estes trajes e dançar ao som de um quinteto designado ‘Os Rapazes da Rádio’ que é composto por sexagenários. Bailam ao ritmo de tangos, boleros, música portuguesa dos anos 1950 e 1960 e ainda melodias dessa época em inglês e italianas de Marino Marini (‘La Piu Bella del Mondo’, ‘Quando, Quando, Quando’ e outras que a intemporalidade da música exige serem perenes). O vocalista, claro, canta num género de inglês e italiano muito abaixo do que se considera macarrónico.
Entre as festividades institucionais, decoradas de fogo-de-artifício e de falsas promessas de um Mundo melhor, do Terreiro do Paço à Times Square, o Réveillon da Sociedade Recreativa e Musical de Ribeira dos Olivais é mais realista: esta noite vamos gozá-la, o ano que entra vamos sofrê-lo.  

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