O jornal ‘Público’ de Domingo,
08-10-2017, publicou na 1.ª página uma destacada imagem de Pedro Passos Coelho
(PPC). O título do texto é: “Passos fora:
a história de um projecto liberal interrompido”; e, para que não haja
dúvidas, em subtítulo reforça: “[…]Sai agora, quase só e com um projecto liberal interrompido. Sem o dar por terminado.”
Do texto em causa, de David
Dinis, extrai-se a ideia de que o autor partilha das dores da partida de PPC. Exprime-se
até em tom melancólico, sob a crença de um dia, não se sabe quando, o homem regressar
para retomar o projecto ora descontinuado. O artigo remete, pois, para a
ideia de um tipo de sebastianismo. Só não explica se o regresso acontecerá numa
manhã de nevoeiro, numa tarde tempestuosa ou numa noite de tormentas. O futuro
o dirá.
Classificar PPC de liberal é um
erro, cometido, aliás, por outros jornalistas e comentadores políticos. Com
efeito, o ainda líder do PSD/PPD não se integra no ‘liberalismo clássico’,
ideologia a que, à semelhança de outros estudiosos, Tony Judt, em ‘O Século XX
Esquecido’ se refere assim:
“O Estado-providência, em suma, nasceu de um consenso transpartidário
do século XX. Foi implementado, na maioria dos casos, por liberais ou
conservadores que haviam entrado na vida pública muito antes de 1914, e para
quem o fornecimento público de serviços médicos universais, pensões de velhice,
subsídios de desemprego e doença, educação gratuita, transportes públicos
subsidiados, e os outros pré-requisitos de ordem civil estável, representavam
não o primeiro estádio do socialismo do século XX mas o culminar do liberalismo
reformista do fim do século XIX.”
Os propósitos programáticos e de
acção governativa de PPC identificam-se, isso sim, com o ‘neoliberalismo’, na lógica
dos modelos de Thatcher e Reagan, após a ‘Perestroika’ e a queda do muro de
Berlim em 1989.
De resto, o texto do ‘Público’
denúncia com clareza o carácter ‘neoliberal’ do projecto de PPC, nomeadamente
quando se escreve:
“[..] Passos tinha até orgulho nisso: o quase líder aparecia propondo
uma redução das funções do Estado, uma contracção também no número de
funcionários públicos (com a entrada de uma para…cinco saídas), o fim da subsidiodependência,
a criação de uma ‘Entidade Reguladora da Educação’ para evitar ‘a dependência excessiva
do Ministério’, a ‘modernização’ das leis laborais, o plafonamento da Segurança
Social, financiado por emissão de dívida pública.”
Os portugueses, de hoje e do
futuro próximo, sentem na pele e na alma que a “modernização” das leis laborais
significa a precarização dos salários e das condições de trabalho. Também os
pensionistas souberam, na vida real, o que representa o “plafonamento da Segurança
Social”, não devendo esquecer que foi o Tribunal Constitucional quem cortou os
passos a Coelho, assim como, posteriormente, nas últimas eleições, o ainda
líder do PSD/PPD propôs um corte efectivo de 600 milhões de euros nas despesas
da SS.
Todavia, temos de reconhecer a instabilidade, a
volatilidade e as contradições das sociedades da globalização, não
surpreendendo que o citado Coelho ou outro láparo se afirme na cena política em
tempos futuros, com os mesmos propósitos. Vive-se demasiado à pressa e a
memória colectiva é curta.
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