À semelhança de outras regiões de
Espanha, a Catalunha tem uma história multisecular, complexa e recheada de
transformações políticas. Se iniciarmos a análise histórica no século IX,
regista-se que a região catalã esteve, nessa época, sob o domínio do Império
Carolíngio, da França medieval; no século X, os condados catalães declararam a independência
em relação ao poder carolíngio; no século XII, o conde Berenguer IV (1131-1162)
tomou em casamento Petronita de Aragão, filha do rei Ramiro, tornando-se príncipe
daquele reino, através de uma união dinástica do Condado de Barcelona com o
Reino de Aragão.
A citação de estes fragmentos
históricos serve para evidenciar que as transmutações, ao longo de séculos, da
Catalunha, em termos de particularismo, soberania e dependência, foram diversas
e, por vezes, profundas. Centrar a análise histórica, apenas, na sublevação
catalã, em 1640, parece-me redutor, ainda que os acontecimentos, à época, também
tenham sido relevantes do ponto de vista político, económico, social e até
religioso.
Perante este acervo histórico e a
tensão actual entre o Governo de Madrid e o Governo Autónomo da Catalunha,
sinto-me incapaz de defender uma posição pró ou contra a independência da região.
Estou certo, apenas, da legitimidade de pugnar pelo escrutínio participado, idealmente,
por todos os catalães habilitados a exercer o direito de voto no processo de
autodeterminação.
Trata-se, pois, de um processo
político, para o qual a História pode contribuir, mas nunca de forma decisiva. De
igual modo, aliás, se revelou contraproducente a judicialização da causa pelo
desastrado Governo de Rajoy que, para cúmulo, recorreu à força policial para
repressão de manifestantes independentistas – polícias, bastões e balas de
borracha de um lado e agredidos, com muita ou pouca gravidade, de outro; tudo isto
só favoreceu os independentistas e multiplicou os seus apoiantes. Neste tipo de
causas, a vitimização é fácil e rende mais manifestantes e apoios.
Todavia, há que admitir que, ao
contrário do que os media e em especial as TV’s mostram, também existem, e
muitos, anti independentistas. Segundo
números divulgados ‘El País’, em 1 de
Outubro, votaram 2.262.424 cidadãos, dos quais 2.020.144, número adiantado pelo
Governo Catalão, se pronunciaram pelo sim à secessão; adianta o citado jornal
que o total de recenseados é de 5.343.358, concluindo que, apenas, 42%
exerceram o direito de voto.
A notícia exibe ainda imagens de
uma manifestação muito participada de anti independentistas, referindo a
existência de um clima de intimidação de que estes são vítimas por parte dos defensores
da independência.
De nada adianta, como fazem hoje
no ‘Público’ diversos intelectuais e universitários, despejar mais argumentos
suportados por Leis e Tratados. O processo é só e tão só político. Rajoy e
Puigdemont negoceiem e organizem um referendo democrático envolvendo a grande
maioria dos catalães na votação e sem pressões de um e de outro lado. Quem ganhar,
ganha! Mas há que advertir que há a probabilidade de resultados com mais benefícios
do que custos ou de outros com mais custos do que benefícios. Depende da perspectiva. Todavia, votar é preciso.
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