O título 'Dona do Skip deixa de produzir detergentes em Portugal' é simplesmente redutor, por motivos diversos:
- A dona do 'Skip' - até dá à sensação que se poderia chamar D. Alzira ou D. Aldegundes - é igualmente dona do 'Cif', do 'Comfort', do 'Sun', do 'Surf', do 'Axe', do 'Dove', do 'Linic', do ' Lux', do 'Rexona', do 'Vasenol', estes no domínio dos cuidados de casa e de higiene pessoal.
- A dona do 'Skip' denomina-se Indústrias Lever Portuguesa S.A., resultando de uma associação de há décadas entre a Unilever e o grupo Jerónimo Martins.
- Com o encerramento da fábrica de Sacavém, encerra-se o ciclo de vida dos grandes produtores de produtos de limpeza e de higiene pessoal em Portugal, formado justamente pela Lever e por outras empresas de capitais nacionais, Sonadel/Uniclar (participadas pelo grupo Quimigal, pela SNS e fabricantes do 'Xau', do 'Juá', do 'Super-Pop', da 'Javisol', do sabonete 'Feno de Portugal') e da SNS - Sociedade Nacional de Sabões Lda. (produtora do 'Sonasol').
Desde os tempos de governação de Cavaco Silva - o infatigável lutador pelos investimentos em 'bens transaccionáveis' - o PIB português sofreu considerável redução, através do desmantelamento de uma indústria que empregava centenas de engenheiros e trabalhadores especializados em 'química fina' no País. Ficámos reduzidos a dois dedos de fábricas de dimensão limitada, salientando-se, talvez, a Jodel, especializada na produção de marcas próprias para a distribuição moderna.
Citei Cavaco Silva com o propósito de lembrar que foi sob o comando do seu governo que António Carrapatoso na Quimigal, às ordens de Mira Amaral, forçou e realizou a venda da Sonadel/Uniclar à Colgate da participação maioritária de 58% de capital. Os minoritários SNS e Macedo & Coelho tiveram de acompanhar a operação até aos 100%.
Apenas a título de curiosidade, refiro que, por mera coincidência, na altura, o filho de Cavaco entrou para os quadros da Colgate. Mais tarde saiu, segundo sei. Coincidências.
O aspecto penoso desta história é Portugal hoje importar parte substancial dos produtos de limpeza e de higiene que consome, em contradição com o que sucedia há três décadas.
Em alguns anos da década de 1980, o País efectuou exportações de mais de 5.000 toneladas anuais de detergentes - marcas próprias das cadeias 'Tesco', 'Safeway' e 'Boots' no Reino Unido eram abastecidas pela Sonadel que igualmente fornecia milhares de toneladas à argelina SNIC.
Este exemplo de alienação de produções estratégicas e de centros de decisão a estrangeiros, como se comprova, resultam sempre em desindustrialização, aumento do desemprego, acréscimo das importações e outros danos causados à Economia do País. Seria útil que o bancário Gaspar, ígnaro em termos de economia industrial, tomasse disso consciência.
(Para evitar alongar ainda mais este 'post', não me referi intencionalmente ao sector das indústrias alimentares da Lever Portuguesa. Também nesse indústria, há histórias amargas para narrar).
Ainda bem que o diz, pois acabei de decidir não comprar mais dessas marcas!
ResponderEliminarO "grande industrial" Soares dos Santos, que clamou pela vinda da troika, é isto, apenas isto !
ResponderEliminarTrabalhei no ramo. Do que digo, ninguém me poderá desmentir. Quem o faça, será alvo de processo judicial. Chame-se Soares dos Santos, Cavaco Silva, Mira Amaral, António Carrapatoso ou qualquer figura menor, género contínuos de luxo, tipo Alves Monteiro ou Luís Filipe Pereira. Dizimaram a indústria nacional de detergentes e de produtos de higiene pessoal. Estão todos desafiados para me desmentirem - orem a São Jorge, à Senhora de Fátima ou a qualquer Orixá - porque mesmo com o sistema de justiça português não os temo.
ResponderEliminarO desafio fica aqui lançado.