Ronaldo e toda a equipa oraram e benzeram-se nos balneários. Mourinho e a equipa técnica do Real à parte, cumpriram a liturgia da confissão dos pecados ao arcebispo de Madrid, D. António Maria Rouco Varela, bem como rogaram a clemência e ajuda divinas para a conquista, com esforço de cruzados, da 'Copa del Rey'. O adversário foi o Atlético de Madrid, popularmente apelidados de 'colchoneros', devido ao listado vermelho-branco das camisolas - 2-1 bastou.
Afinal, terminaram como Jesus, em profundo sofrimento e de joelhos. Os 90 e tal minutos de jogo passaram a ser dramáticos para alguns fidelíssimos da crença católica, apostólica e romana - apenas Pinto da Costa está salvaguardado através de um pacto secreto com a Senhora de Fátima, cuja imagem nunca lhe sai do bolso e é beijada, por si, múltiplas vezes durante os 90 e tal minutos com respeito e santa paixão. Muita paixão!, de certeza reforçada com a sagrada benção do agora Cardeal-Patriarca Clemente.
Um dia, em futuro de que estaremos ausentes, aqueles que por cá andarem terão o divino privilégio de conhecer a revelação do fenómeno que nem a 'Teologia Futebolística', hoje, sabe explicar. O Papa da ocasião desvendará o mistério dos sucessos e não sei quantos camionetas levarão uma multidão a Fátima para agradecer o auxílio divino aos então antanhos campeões portistas e presidente. Pinto da Costa, na altura, será certamente beatificado - poderá ser o Beato Costa dos Clérigos, imagino eu.
O desencanto dos 'lampiões', por obra e graça do divino Espírito Santo, também será acolhido com complacência pela Santa Madre Igreja. E, nessa domingueira manhã em que o Vaticano ficará de espaço esgotado por perdedores aos 90 e picos minutos de jogo, erguer-se-á bem alto a imagem de Jesus, Vieira, Mourinho e Florentino Peres, em novo acto de beatificação que, mil vez retractado, os 'Platinis' do futuro emoldurarão para decoração solene e santa da sede da UEFA, em Zurique - ou será na sede 'Opus Dei' em Madrid? Sim porque o futebol é negócio e dos grandes! A beatificação e a "milionarização" do pontapé na bola sempre se harmonizarão espiritual e fisicamente.
Com toda esta conversa, esquecemo-nos dos menores, dos de peso reduzido para quem inevitavelmente me inclino. É em seu louvor, neste caso dos 'colchoneros', que vivi a alegria e o prazer de ridicularizar Mourinho & associados. O 'Zé' de Setúbal regressou antes de tempo ao local de onde tinha saído para a arena, por ordem do árbitro. Graças aos 'colchoneros', que lhe puseram a cabeça em parafuso. Coisa fácil, reconheça-se.
Viva o Atlético de Madrid, ao menos por um dia em que foi vencedor da 2.ª competição do futebol espanhol, sendo o mais fraco dos fortes.
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