quarta-feira, 22 de maio de 2013

Schäuble e Gaspar, em financeiro deleite


Há muito que Schäuble e Gaspar se converteram no par do mais intenso enlevo austero-financeiro da Zona Euro.
O ministro alemão cumpre os rituais de autoridade germanófila, tradicionais na história do seu povo em situação de domínio – claramente desde o século XIX, é a mais belicosa das comunidades nacionais europeias e sempre ambicionou ser potência dominante e subjugadora.
Gaspar, de ar de pedinte, comportou-se dentro do estigma da ‘nacional-humildade’ e da ‘obediência’ que é o estilo prevalecente do nosso governo perante a chanceler e o ministro das finanças da Alemanha.
O episódio noticiado poderia ser mais uma fórmula objectiva e realista para a reprodução de novo conto ‘Homem Rico, Homem Pobre’.
Submisso e com mil vénias, Gaspar alcançou o assentimento de Schäuble no sentido do Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), banco público alemão, vir a apoiar PME portuguesas.
Primeiro, esclareça-se que, ao jeito de muitas outras reestruturações da sociedade alemã no pós-2.ª guerra, o KfW foi erigido com dinheiros do Plano Marshall, sob a designação, em português, de Instituto de Crédito de Reconstrução – o processo de alavancagem da Alemanha pós-1945 beneficiou de perdões de dívida, de limitações de juros, de gnerosos contributos dos países vencedores do conflito - a criação deste banco foi mais um resultado da ajuda ocidental.
Segundo, não é claro por que condições – critérios para a selecção dos beneficiários, estatuto de participações no capital, dividendos, taxas de juro e prazos de reembolso, por exemplo – se pactuará o apoio, criado pelo enlevo financeiro entre os dois governantes.
Terceiro, se o apoio em causa se transformar em instrumento de concorrência à banca nacional, esta que está debilitada, dito em surdina mas é a realidade, mais débil ficará.
Quarto, são muito poucas as PME que laboram a 100% em exclusivo para mercados externos, prevendo-se que o plano de ajuda esteja vocacionado para as PME exportadoras. Se a austeridade, o investimento e a procura interna continuarem a degradar-se ao ritmo da recessão que nos tem atingido pesadamente, sucederá com os prometidos fundos do KfW o que banqueiros nacionais têm alegado acerca do financiamento às PME: não financiam muito, pura e simplesmente porque não existem projectos suficientes e credíveis.
Quinto e último ponto. No fim - daqui a alguns meses ver-se-á - este acordo Schäuble-Gaspar ou será sonho quimérico ou funcionará insipidamente. Há um objectivo que o mesmo já serviu: o reforço do servil Gaspar junto do poderoso ministro das finanças alemão, com vista a progressos carreiristas a curto ou médio prazo – já se diz que o fulano integrará o BCE… se este e o euro perdurarem, claro.  
(Adenda: Schäuble ignora e perdoa os constantes erros das folhas de 'Excel' de Gaspar).

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