quarta-feira, 22 de maio de 2013

Passos dos conselhos paternos desdenhados

Os desabafos à imprensa do Dr. António Passos Coelho, pai do PM, são pungentes. Compreendo-o, embora com dissonâncias. O filho não o quis ouvir. Sofre, pois, pelas incapacidades e dificuldades dele, na governação do País. Todavia, vive a conjuntura apenas no âmbito da família. Ao que se percebe, firmemente desejosa da comemoração efusiva da cessação de funções governativas do Pedro – será o regresso tranquilo ao lar e ao emprego bem remunerado que um amigo, talvez Correia ou de apelido diferente, lhe assegurará.
Com o devido respeito, por quem tem 87 anos de idade, é necessário lembrar o Dr. António de que o filho, por desmedida ambição e impreparação, tornou ainda mais pungente a vida de mais de três milhões de portugueses – os desempregados, os trabalhadores precários, os funcionários públicos, os reformados e pensionistas espoliados através da eliminação de subsídios de férias e da taxa de ‘Contribuição Extraordinária de Solidariedade’; tudo isto a par de outros desmandos fiscais e legal-laborais com que o governo, às ordens do filho Coelho, tem fustigado brutalmente os portugueses. Não poucos até à miséria.
Talvez, como sucede a muito boa gente, o pai Coelho nunca tenha conhecido o suficiente do carácter do filho Coelho, em aspectos que escapam a muitos pais: a desmedida ambição de conseguir o poder, as companhias políticas pouco recomendáveis com quem emparceirou; a falta de preparação profissional e científica para domar o fanático ministro Gaspar – entre membros da mesma confraria, neoliberal, e sobretudo em momentos de exercício de poder, os laços apertam-se, com o mais forte a escolher caminhos para levar pela mão o frágil. Para cúmulo, sendo este último arrogante e ignorante das limitações que o condicionam.
Com tantas deficiências, nunca sequer percebeu a grave situação que o País atravessa há anos, suscitada por causas endógenas desde Cavaco Silva (Ernâni Lopes foi, de facto, o último dos competentes a dirigir as finanças públicas), causas essas a que acrescem o trágico erro da criação e nossa adesão à Zona Euro, sem regras de enquadramento económico, fiscal e orçamental para os países constituintes. A Passos Coelho, PM, apenas interessou o poder pelo poder. Por capricho e vaidade. Obedeceu a Merkel e Gaspar, eis o que conseguiu.
Oxalá Dr. António Passos Coelho festeje rapidamente em família o regresso do “filho pródigo, ambicioso insano e, ao que diz, arrependido” e que venha alguém que saiba cuidar dos portugueses velhos e novos, dotado de forte personalidade e de capacidade para transformar a desumana política de austeridade de que o seu estimado filho é fidelíssimo e cruel impulsionador.
 
Oxalá, repito, festeje em breve e alegre o regresso do Pedro. Em muitos outros lares, com água, vinho baratinho e refrigerantes de marca própria, estou certo, também se comemorará com euforia não o regresso, mas a partida dele e da companhia inteira – espécie de retirada do ‘circo maldito’, celebrada efusivamente pelo povo da aldeia, cansado de pesados feitiços.

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