Cavaco está ressabiado. Tem uma
quota de popularidade negativa (-6,2%, segundo o Expresso, agravada em -5%
desde a última sondagem). Segundo os analistas, a quebra atribui-se às
declarações feitas pelo inquilino do Palácio de Belém, a propósito do
incumprimento de Passos Coelho perante a Segurança Social e à antecipação do
perfil, gémeo do seu, para o próximo Presidente da República.
Cavaco, que se auto-sugestiona de
sábio infalível, cultiva a presunção da sapiência que se traduz em discursos do
género: “acima de todos, eu é que sei, eu
afirmei que seria assim há muito tempo [quando, não raras vezes, se desmente a si
próprio.]”.
Na linha do comportamento habitual,
e se tomarmos em conta a revolta de um derrotado, na
sessão da OCDE em Paris, exultou hoje de encómios o desempenho governativo
do governo desde 2011.
Cavaco, nitidamente, tentou
favorecer Passos Coelho, ao afirmar que a Economia Portuguesa crescerá 2% em
2015, nem mais nem menos, 2%, contrariando as previsões do próprio governo e do
Banco de Portugal (1,5%) e da OCDE (1,3%). O discurso foi tão sectário e
laranja, que Portas foi secundarizado; posição, de resto, mais do que merecida.
No discurso em causa, há algumas
contradições. É útil assinalá-las, em defesa da verdade. Cavaco é elogioso
quanto ao desempenho do governo actual e quer fazer-nos acreditar que as políticas
aplicadas na educação, ciência,
ciências do mar, mercado laboral, fiscalidade, justiça e ambiente de negócios
têm sido o pilar do pretendido mas falso sucesso.
Todavia, na defesa dos seus 2% de crescimento do PIB em 2015,
considera serem determinantes ‘a queda do
preço do petróleo’ e ‘a
desvalorização do euro’, duas variáveis exógenas. Afinal em que ficamos? O que é mais decisivo para o referido
crescimento, o desempenho do governo ou as variações de impacto macroeconómico
da economia global e, portanto, de ordem externa? Também cita a queda dos juros como
mérito da governação interna, ocultando que são as medidas tomadas por Draghi
no BCE a causa determinante de tal redução.
Sem ponta de pudor, uma dívida de 129% do PIB é sustentável.
Coisa inversa disse-o há tempos e o nível de endividamento era mais baixo.
Enfim, e mesmo para terminar, registe-se que as PPP, com a
Ponte Vasco da Gama e o Hospital Amadora-Sintra, tiveram o primeiro passo na
governação cavaquista e, por último, mesmo por último, citemos o ‘Jornal
de Negócios’, edição de 23 de Abril de 2011, onde a propósito do
agravamento do défice de 2010 se poderia ler:
“A revisão para
8,6% do défice em Março deveu-se a alterações realizadas na metodologia pelo
Eurostat que obrigaram então a uma revisão em alta do défice para 2010 em 1,8
pontos percentuais.
Em causa estava a incorporarão nas contas nacionais das imparidades com o Banco Português de Negócios (BPN), que acrescentam um ponto percentual ao défice de 2010, 0,5 pontos percentuais provenientes das empresas de transporte e 0,3 pontos percentuais relativas ao Banco Privado Português (BPP).”
Em causa estava a incorporarão nas contas nacionais das imparidades com o Banco Português de Negócios (BPN), que acrescentam um ponto percentual ao défice de 2010, 0,5 pontos percentuais provenientes das empresas de transporte e 0,3 pontos percentuais relativas ao Banco Privado Português (BPP).”
Compreende-se a dificuldade de
Cavaco em falar do BPN, de Oliveira e Costa, de Dias Loureiro & Cia..
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