segunda-feira, 16 de março de 2015

Cavaco, o presidente de uma minoria de portugueses

Cavaco está ressabiado. Tem uma quota de popularidade negativa (-6,2%, segundo o Expresso, agravada em -5% desde a última sondagem). Segundo os analistas, a quebra atribui-se às declarações feitas pelo inquilino do Palácio de Belém, a propósito do incumprimento de Passos Coelho perante a Segurança Social e à antecipação do perfil, gémeo do seu, para o próximo Presidente da República.
Cavaco, que se auto-sugestiona de sábio infalível, cultiva a presunção da sapiência que se traduz em discursos do género: “acima de todos, eu é que sei, eu afirmei que seria assim há muito tempo [quando, não raras vezes, se desmente a si próprio.]”.
Na linha do comportamento habitual, e se tomarmos em conta a revolta de um derrotado, na sessão da OCDE em Paris, exultou hoje de encómios o desempenho governativo do governo desde 2011.
Cavaco, nitidamente, tentou favorecer Passos Coelho, ao afirmar que a Economia Portuguesa crescerá 2% em 2015, nem mais nem menos, 2%, contrariando as previsões do próprio governo e do Banco de Portugal (1,5%) e da OCDE (1,3%). O discurso foi tão sectário e laranja, que Portas foi secundarizado; posição, de resto, mais do que merecida.
No discurso em causa, há algumas contradições. É útil assinalá-las, em defesa da verdade. Cavaco é elogioso quanto ao desempenho do governo actual e quer fazer-nos acreditar que as políticas aplicadas na educação, ciência, ciências do mar, mercado laboral, fiscalidade, justiça e ambiente de negócios têm sido o pilar do pretendido mas falso sucesso.
Todavia, na defesa dos seus 2% de crescimento do PIB em 2015, considera serem determinantes ‘a queda do preço do petróleo’ e ‘a desvalorização do euro’, duas variáveis exógenas. Afinal em que ficamos? O que é mais decisivo para o referido crescimento, o desempenho do governo ou as variações de impacto macroeconómico da economia global e, portanto, de ordem externa? Também cita a queda dos juros como mérito da governação interna, ocultando que são as medidas tomadas por Draghi no BCE a causa determinante de tal redução.
Sem ponta de pudor, uma dívida de 129% do PIB é sustentável. Coisa inversa disse-o há tempos e o nível de endividamento era mais baixo.
Enfim, e mesmo para terminar, registe-se que as PPP, com a Ponte Vasco da Gama e o Hospital Amadora-Sintra, tiveram o primeiro passo na governação cavaquista e, por último, mesmo por último, citemos o ‘Jornal de Negócios’, edição de 23 de Abril de 2011, onde a propósito do agravamento do défice de 2010 se poderia ler:
A revisão para 8,6% do défice em Março deveu-se a alterações realizadas na metodologia pelo Eurostat que obrigaram então a uma revisão em alta do défice para 2010 em 1,8 pontos percentuais.
Em causa estava a incorporarão nas contas nacionais das imparidades com o Banco Português de Negócios (BPN), que acrescentam um ponto percentual ao défice de 2010, 0,5 pontos percentuais provenientes das empresas de transporte e 0,3 pontos percentuais relativas ao Banco Privado Português (BPP).”


Compreende-se a dificuldade de Cavaco em falar do BPN, de Oliveira e Costa, de Dias Loureiro & Cia..

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