Do indiano da ‘troika’ a Cavaco, do Zorrinho a
Cadilhe, deste e do outro extremo do famoso segmento curvo do distinto ‘arco do
poder’ (PS, PSD e CDS), a ordem é clamar
por ‘reformas estruturais’. A fim de satisfazer tal ânsia reformista, logo que
encontre o Zé Pedro ou o Tim dos Xutos, implorarei: “Reformulem a letra da canção ‘Contentores’, para que
regressem os amores a este recanto do mundo em auxílio dos reformadores…”.
A hora é de retorno às zonas de
conforto na Pátria. Zé Pedro e Tim poderão auxiliar-me na minha abstrusa
proposta e ao sábio programa de incentivos ao regresso de emigrantes
qualificados, da autoria do preclaro Lomba, uma medida de arromba! Ainda mais
abstrusa.
Insistem os grandes mestres, da
nossa desgraça, que temos de dotar o País de ‘reformas estruturais’. Ainda
ontem, Miguel
Cadilhe defendeu esse objectivo no ‘Clube dos Pensadores’, em consonância
com o pensamento
manifestado em Paris por Cavaco – “um
irmão deve sempre estar sempre em
consonância com o outro”, diz, pleno de acrítica convicção, o beato de
inabalável fé, sem enxergar que Francisco não é igual a Bento, da mesma forma
que oficial não é sargento.
A expressão ‘reformas estruturais’,
pronunciada amiúde por eminentes figuras, transformou-se em jargão. A omissão
de objectivos não é inocente. Para as eminências defensoras da tese, estão em
causa números, as contas públicas, mas, acima de tudo, as despesas com o Estado
Social que nos resta. Sim, porque atingir milionários e corporações poderosas
da sociedade, que evito discriminar, é impensável; aliás, demasiado embaraçoso
para as elites do poder.
A racionalização das contas
públicas, na óptica dos distintos pensadores, reduz-se a afectar direitos dos
pobres e da classe média em degenerescência: dos desempregados aos reformados,
das crianças a velhos carenciados.
É premente, isso sim, solucionar
o défice orçamental, sem incomodar os acomodados e os detentores de fortunas que
se multiplicam a ritmo superior ao do empobrecimento de milhões das camadas
sociais desprotegidas – ler ‘O
Capital no Século XXI’, de Thomas Piketty ajuda, e de que maneira, a
compreender o fenómeno da expansiva desigualdade no mundo e a imunidade das
oligarquias financeiras às ‘reformas estruturais’.
Cantemos, pois, “Ó meus amores,
ajudem os reformadores”. Acabem com o pouco que sobra aos cidadãos comuns. Quando
sobra, porque em regra falta.
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