Há oito dias, fui um dos milhões de seres humanos atingidos pelo golpe brutal desta imagem. Asylan, um menino de 3 anos, morreu afogado próximo da península turca de Bodrum.
A mãe e o irmão de 5 anos também foram engolidos pelo mar; mas Asylan é que se converteu em ícone da desgraça humana que se propagou do Afeganistão ao Iraque e à Síria.
Noutra frente de desgraça, a Líbia tornou-se a a porta de saída para a Europa (Itália) e para morte de seres humanos de vida despedaçada.
Os políticos ocidentais, em especial George Bush (filho), Asnar, Blair, Obama, Sarkozy e Cameron, uns mais do que outros, têm a forte responsabilidade em relação a causas remotas mas decisivas que, passados estes dois anos, deram origem à criação e ampliação do ISIS (Estado Islâmico do Iraque e do Levante).
Os projectos desses políticos tiveram motivações de natureza diversa. Todavia, entre estas, o traço comum é o acesso ao petróleo, mesmo que o custo em termos de perdas de vidas humanas e instabilidade social seja elevado.
Saddam Hussein foi deposto e morto no Iraque, numa guerra que era anunciada como curta e precisa quanto aos alvos a atingir. Afinal, tornou-se num conflito arrastado, justificado através de mentiras em que Durão Barroso foi conivente, deixando milhares de mortos, entre civis de todas as idades, e um País destruído de que as tropas norte-americanas, sob as ordena de Obama, se retiraram.
O Afeganistão tem também incrustado, física e socialmente, a marca norte-americana que se saldou com o êxito da morte de Bin Laden. O líder da Al Qaeda foi um produto criado pelos EUA nos combates contra a então União Soviética, Só razões de amizade e interesse de negócios justificam que à família de Bin Laden tenha sido facilitada a saída dos EUA logo após o 11 de Setembro, como demonstra Michael Moore no documentário 'Fahrenheit 9/11'.
No derrube e morte de Kadafi, as preocupações de Sarkozy e Cameron não se centraram nos interesses da defesa dos direitos e liberdades do povo líbio, mas nos benefícios do petróleo desse País, cuja qualidade é das mais elevadas no mundo. Obama e Berlusconi ajudaram à festa.
A 'Primavera Árabe' foi saudada no Ocidente. Deu em borrasca. Olhemos para o que se passa no Egipto e na Tunísia: sai ditador, entra ditador. A instabilidade causada pelo terrorismo aumentou.
Temos ainda os aliados. Primeiro, os árabes da Arábia Saudita e Emiratos, cheios de dinheiro e de desprezo pelo sofrimento humano de centenas de milhares de crianças, mulheres e homens que sofrem os horrores da organização do Estádio Islâmico, entretanto florescida no seio de enorme caos.
Contudo, dos aliados, cumpre-me distinguir a Turquia e as seguintes passagens da tradução do que Bem Taub escreveu em 'The New Yorker':
"O rebelde afirmou que uma grande carga de armas ucranianas estava a ser conduzida da Turquia para a Síria, para Ahrar al-Sham, para uma brigada islâmica com turvas conexões com a Al Qaeda. As luzes voltaram aproximadamente...
O governo Turco insiste que tal transporte era impossível — que ele não estava fornecendo armas para grupos rebeldes na Síria — mas vários relatórios indicam o contrário. Num caso, camiões escoltados pelos serviços de inteligência Turcos foram encontrados a transportar milhares de morteiros e oitenta mil cartuchos de munições para a fronteira Síria, de acordo com relatórios do jornal turco 'Cumhuriyet'. As munições tinham marcações em Cirílico e, de acordo com o depoimento de um motorista, foram resgatadas de um avião estrangeiro em Ancara. O governo apresentou acusações de traição contra as forças de segurança, que conduziram a pesquisa, e o Presidente Recep Tayyip Erdoğan, que era então primeiro-ministro, disse que não tinham o direito de parar os camiões pertencentes aos serviços de inteligência. Um governador local, seguindo ordens do Erdoğan, autorizou os camiões a continuar até à fronteira...
Então, a Turquia também começou a bombardear o P.K.K., um grupo de militantes curdos que lutavam contra o ISIS, agitando uma luta de décadas entre a Turquia e os curdos...
(Nota: Não foi por esquecimento ou ignorância que omiti a situação humanitária de populações de outras paragens, como o Sudão, o Egipto e vastas áreas da região subsariana. As imagens de crianças cadavéricas nos braços de mães indigentes e desnutridas também me ferem a alma. O anonimato é total, ao invés do caso de Asyan, e as cenas são reveladas por programas televisivos a altas horas, como o 'Toda a Verdade' da SICN, sempre madrugada adentro.)
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