Jamais parti sem intenção de
voltar. Um dia teria de regressar a este meu recanto e às manifestações de
muita revolta e escasso contentamento, em desabafos que, minuto a minuto, constroem
e reflectem os meus pensamentos.
Voltei, portanto, aqui, ao
solitário refúgio, onde o velho piano, semanas a fio, apenas sonorizou uma
doentia mudez. Coberto de pó e teclas imobilizadas, sofreu e exprimiu a mágoa
da inutilidade da vida, como Fernando Pessoa na 1.ª setilha do
poema ‘Estado de Alma’:
“Inutilmente vivida
Acumula-se-me a vida
Em anos, meses e dias;
Inutilmente vivida,
Sem dores nem alegrias,
Mas só em monotonias
De mágoa incompreendida…
Com compaixão pelo piano e os
seus sons, os ‘solos sem ensaio’, em
melodias, boas e más, esconjuntarão o angustiante e triste silêncio de um longo
tempo, o qual também a mim um juiz misterioso me condenou.
Estou de novo no paradisíaco refúgio!
Afaguei o piano com emocionado afecto. Teclarei sempre em defesa de causas que
me pareçam justas. Da verdade, quase sempre ausente do discurso do poder, e continuamente
empenhado no objectivo de revogar o irrevogável e atirar o aldrabão de
pantanas. Isto e muito mais. Defender as causas do humanismo, neste mundo deveras perverso
e marcado pela carência de justiça social e de paz.
A imagem da criança afogada tornou-se
no derradeiro ícone de dramas que atormentam milhões de seres humanos.
Uns classificarão as minhas intenções
de mera utopia. Retorquirei que utopia não é um mito, mas um simples e legítimo desejo humano de lutar por caminhos e metas complexas para que, sem poder
satisfazer o objectivo integral, são contributo para que a sociedade humana se reestruture e elimine as
profundas desigualdades que, neste Século XXI, persistem e se multiplicam assustadoramente.
Os temas da
política à economia voltarão, pois, a ser os elementos centrais dos textos a
publicar.
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