quinta-feira, 12 de março de 2015

À atenção do Coelho, da Maria Luís e do Pires

Na qualidade de cidadão de Portugal, país de que entoam um desempenho económico com vozes de tenor (Coelho e Pires) e de soprano (a amanuense Maria Luís), cumpre-me rogar que, em muito próxima ocasião, cantem aos quatro ventos, sem afinação como sempre, as seguintes árias de ópera bufa:

  • O saldo da balança comercial de bens fixou-se em -10 605,9 milhões de euros em 2014, correspondente a um aumento do défice de 966,3 milhões de euros face a 2013. O défice comercial excluindo os Combustíveis e lubrificantes atingiu   4 391,4 milhões de euros, resultando num aumento de 945,5 milhões relativamente a 2013. (INE-1)
  • O índice de volume de negócios nos serviços apresentou, em Janeiro, uma variação homóloga nominal de -3,4% (-4,2% no mês de Dezembro). Os índices de emprego, de remunerações brutas e de horas trabalhadas ajustado de efeitos de calendário apresentaram aumentos homólogos de 2,1%, 3,5% e 0,6%, respectivamente (1,7%, 2,4% e 0,3% em Dezembro, pela mesma ordem). (INE-2)
  •  Em Fevereiro de 2015, a variação homóloga do IPC situou-se em -0,2%, taxa superior em 0,2 pontos percentuais (p.p.) à registada no mês anterior. O indicador de inflação subjacente, medido pelo índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos, manteve em Fevereiro a taxa de variação homóloga de 0,3% verificada em Janeiro. (INE-3).
  •  O índice de produção na construção apresentou em Janeiro uma variação homóloga de -4,0% (-5,4% em Dezembro). Os índices de emprego e de remunerações diminuíram 1,7% e 3,2% (variações de -1,6% e -5,3% no mês anterior), respectivamente. (INE-4).
  • O Índice de Volume de Negócios na Indústria apresentou, em termos nominais, uma diminuição homóloga de 4,4% em Janeiro (aumento de 1,2% no mês anterior). O índice relativo ao mercado nacional diminuiu 4,9% (redução de 0,7% em Dezembro) enquanto o índice relativo ao mercado externo passou de um aumento de 4,1% em Dezembro para uma redução de 3,8% em Janeiro. (INE-5).
Estudadas as pautas, e percorrendo os auditórios dos canais de TV amigos, com o empenho militante do Gomes Ferreira na SIC, talvez consigam metamorfosear a desarmonia musical em melodias pouco afinadas. Nada mais se exige que interpretem uma ópera  bufa, mas não tosca.

terça-feira, 10 de março de 2015

Um vai partir, outro pode chegar

Sobre Cavaco, PR não-político e no termo da rodagem do Citroën já escrevi, parte, repito parte, do que sinto - repulsa, em termos gerais.
Do que nos pode chegar, há Marcelo e Santana, cujos discursos são bem mais esclarecedores do que quaisquer palavras minhas.
Entretanto, do território 'rosa', tem-se focado a probabilidade da candidatura de António Vitorino. Um polivalente, com 12 ocupações profissionais remuneradas:
 'Sócio da sociedade de advogados Cuatrecasas, presidente da Assembleia-Geral da Brisa, presidente do Conselho Fiscal da Siemens Portugal, presidente da mesa da Assembleia Geral da Novabase, presidente da mesa da Assembleia Geral do Banco Santander Totta, presidente da mesa da Assembleia Geral  da Finpro SPGS, vogal não executivo do Conselho de Administração dos CTT... e, além destes, venham mais cinco que pago já, do branco ou do tinto, como cantava o Zeca.'
Em entrevista ao Jornal de Negócios, Vitorino argumentava:
 “Em Portugal as pessoas acham que ganhar dinheiro é pecado, há ainda uma costela judaico-cristã muito forte. Quem deu 25 anos da sua vida à causa pública tem alguma autoridade para perguntar o que fizeram pelo país os que atiram essa pedra”.
A "causa pública", no caso dele e de outros mais, é uma coutada privada de privilégios de minoria social, os políticos de sucesso. Ter 12 empregos bem remunerados paga-se, no final das contas, com cerca de 2.000.000 de pobres e desvalidos da sociedade; ou seja, 1/5 da população portuguesa. Traduz o preço da desigualdade banalizada nos tempos modernos, ao qual, aqui sim, se aplica a teoria da 'banalidade do mal' de Hanna Arendt.
Eu e muitos outros também fizemos algo pelo país e nunca atirarei a Vitorino qualquer pedrada. Coitada da pedra, que de xisto se transformaria em pó. 

A longa rodagem de Cavaco

As frases célebres constituem um ponto de confluência de homens de perfil cultural, profissional  e intelectual bastante distintos. Comungam, portanto, dessa característica, deixar para a posteridade expressões verbais que a História jamais esquece, sobretudo no caso das elites - valham estas o que valerem.

Das digressões pelo País de figuras de Presidente da República, citemos, ao menos, dois exemplos:

Américo Tomás, nos anos sessenta: 
«...É uma terra [Manteigas]bem interessante, porque estando numa cova está a mais de 700 metros de altitude...»
Aníbal Cavaco Silva, nos anos oitenta:
"Só fui fazer a rodagem" (1985)
Integrada no processo democrático pós-25 de Abril, é declaração relevante para a nossa História recente.

O despretensioso inquilino da marquise da Travessa do Possolo, num belo dia, com a esposa Maria Aldegundes, resolve deslocar-se ao Congresso do PSD de Maio de 1985, para, dizia ele e eu não acredito, fazer apenas a rodagem do Citroën BX que, então, havia adquirido.

João Salgueiro e Rui Machete disputavam a liderança do PSD, à época. De rompante, Cavaco e sua esposa entraram, a alta velocidade com o Citroën, casino da Figueira adentro. A estonteante marcha acabou com Cavaco Silva na presidência do Partido.

Sublinhe-se que se tratou de atitude jamais programada e ainda muito menos intencional do acesso ao poder. Calhou, pronto. Tanto mais que o homem nem sequer é, jamais foi, político e, a despeito do espírito anti-político, acabou com a vida virada do avesso durante 32 anos - dois como ministro das finanças de Francisco Sá Carneiro (1980-1981); dez como PM (1985-1995); e finalmente mais dez como PR (2006-2016).

Portanto, no próximo ano, veremos o homem pelas costas. Partirá um recordista. É o político com mais anos em actividade em democracia e proprietário do Citroën que, mesmo abatido, continua em rodagem. Por sua vez, acumula resultados imbatíveis de falta de popularidade. Em meados de Fevereiro passado tinha um saldo negativo de -1,2%.

Portugal e a sua malta desempenham a preceito o papel da Cornucópia: na mitologia grega significava 'Corno da Abundância' - e como Cavaco, ilustre conhecedor do seu rebanho, ao volante do Citroën, mesmo na hora da partida, define perante os seu súbditos o abundante perfil de presidente a exigir ao seu sucessor:
"... Conhecimento de matérias de defesa - [por que não ataque?] -, de política externa e uma formação, capacidade e disponibilidade para analisar os dossiers relevantes para o país" 
Com muito mais cinismo do que os aprendizes da governação, Cavaco, no que toca ao desemprego e à emigração jovem, deixa mais esta sublime mensagem:

"... obrigando a que se estendesse a presença de Portugal a outros países."
Confesso que, extasiado, esta tirada deixou-me prostrado. Cavaco ficará, pois, na História como o símbolo divino da Portugalidade no mundo. Das Ilhas Faroé a Pequim, passando por essa Europa, América do Norte e do Centro, Brasil, Praia, Bissau, Angola, Moçambique, Goa, Macau e Timor, qualquer português, independentemente de ser Espírito Santo ou Coelho, estará sob a protecção da divindade Cavaco, esteja ele no Templo do Possolo ou naquele outro da Coelha, em convívio com o rubicundo amigo Catroga. 
Cavaco é um sábio. Ou, dito de outra forma, sabe-a toda...

domingo, 1 de março de 2015

Os insultos de Nuno Melo

Nuno Melo cultiva e executa o estilo de político desordeiro. Ignorante, excepto no acesso ao "tacho", é incapaz de ter um intervenção política séria e menos ainda consistente e profunda.
O 'facebook'  é o meio de comunicação da  política de esquizofrenia conflitual que o estimula, a par dos dinheiros auferidos em Bruxelas, para fazer o menos possível - "trabalhar faz calos", como se diz em linguagem popular.
Com o ar de 'gigolo', teve esta tirada:
 "...as declarações do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, de que Portugal e Espanha querem derrubar o actual governo da Grécia, estão no «domínio da alucinação»."
O Syriza, lá longe, incomoda muita gente e a um populista arruaceiro incomoda muito mais!

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Passos Coelho, do calote à reforma da Segurança Social

Do discurso de Agosto de 2014, no Pontal, inflamado e demagógico como é habitual, retenho a seguinte afirmação de Passos Coelho:
Esta afirmação foi motivada pela declaração de inconstitucionalidade pelo TC da contribuição de sustentabilidade que o governo de Coelho e Portas se propunha aplicar a reformados e pensionistas.
Coelho proferiu ainda outras “malabarices”, termo retórico que os linguistas portugueses lhe devem, como contributo para o desenvolvimento do campo lexical. Na sessão em causa, de forma tão desconexa como hipócrita, ainda teve outra proclamação curiosa:
“Os pensionistas não merecem que todos os anos se esteja a tentar fazer o que os outros não deixam ou não consentem que se faça.
Que falta de decoro!
De súbito e sem ficar surpreendido com as incongruências e a desonestidade intelectual, e neste caso material, de Coelho, li no jornal ‘Público’ a notícia de que o PM acumulou dívidas de milhares de euros à Segurança Social (SS) durante cinco anos; de 1999 a 2004. Diz o jornal que as dívidas prescreveram em 2009, mas, a despeito da prescrição, Coelho fez questão de ter liquidado uma parte – 4.000 euros, diz-se.
Coelho alega que jamais foi notificado pela SS. Trabalhei anos a fio em empresas de algumas centenas de trabalhadores e o IGFSS (Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social) notificou sempre os devedores, havendo até um programa, PEC, apoiado pelo IAPMEI, a fim de calendarizar a regularização das dívidas em atraso.
No caso da falta de entrega de contribuições dos trabalhadores independentes, o ‘Público’ explica com clareza o sucedido.
Dos políticos do “arco da governação” em geral, e deste governo em especial, já nada me surpreende quanto a mentiras e injustiças, em especial sobre os trabalhadores no activo, dependentes ou independentes, reformados, pensionistas, desempregados e o sector dos desvalidos a quem também eliminaram ou reduziram as prestações sociais.
Coelho, ‘compère’ do grupo revisteiro sem humor e promotor de grandes dores sociais, deveria ter vergonha em ser governante do País, não hesitando em recorrer ao topete de ter o objectivo de reforma de um sistema de SS que ele próprio lesou, pesada e demoradamente.
Quer convencer-nos de que ignorou que durante 5 (cinco!) anos esteve em incumprimento com a SS.
Que falta de decoro!
Gente deste género deveria, pura e simplesmente, ser impedida de desempenhar qualquer cargo no Estado e, por maioria de razão, candidatar-se a cargos políticos. É por efeito de caloteiros deste calibre e de empresas que não entregam à Segurança Social as contribuições exigidas pela Lei e as quotizações retidas aos trabalhadores que, em conjunto com outros factores, a sustentabilidade do sistema de SS está ameaçada.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

George Gershwin: I got rythm

Norte-Americano, nascido em 1898 e falecido     prematuramente em 1937, George Gershwin, é um lendário compositor musical.  
Notabilizou-se na música popular e em melodias de estilo clássico - a ópera Porgy and Bess que integra a velhinha relíquia 'Summertime' é, porventura, a sua obra mais divulgada e ainda hoje interpretada em diversos palcos mundiais.
Tentando associar o prazer que as composições de George Gershwin me suscitam ao desejo (ou sonho?) de retomar uma actividade mais regular e intensa no meu recanto, designado 'Solos sem Ensaio', elegi, neste fim-de-semana, "I got rythm", um clássico do Jazz, tão intemporal quanto a obra Gershwin, na íntegra. No fundo, é um acto próprio de alegoria sentimental.

Costa, afinal, é o mito que a direita esperava

Começo por ler e reflectir sobre o fragmento deste texto publicado em 1998 no ‘site’ Scielo:
“Na linguagem corrente, a palavra "mito", desprovida de qualquer complexidade, designa uma ideia falsa ou, então, a imagem simplificada e ilusória de uma realidade. Seu campo semântico é o da "mentira". […]”
O novo ano chinês, que dizem ser da ‘cabra’, foi fatal para o secretário-geral do PS, António Costa. Acima de tudo, causou um surto de brucelose de tal intensidade político-bacteriana no partido rosa que, fora outras discussões internas, já acamou definitivamente, em leito externo ao PS, Alfredo Barroso. O episódio de Costa na festa chinesa do novo ano causou a desfiliação de Barroso do partido de que foi fundador.
Com efeito, Costa desiludiu-me. Creio ter sucedido o mesmo com milhares de cidadãos, militantes ou simpatizantes, que nele votaram ou não – colateralmente, o caso do perdão de 4,6 milhões ao Benfica (“Marques Mendes são 4,6 milhões oferecidos à enorme família vermelha!”… “grito, grito, mas o videirinho não me ouve…”); ia a dizer que perdoar 4,6 milhões a um clube de futebol, chame-se Benfica ou Charneca dos Tesos Futebol Clube é abjecta ofensa à enorme horda de pobres e desempregados, crianças esfomeadas, que sobrevivem em sofrimento no tecido social deste País.
Helena Roseta, do movimento “Cidadãos por Lisboa”, a despeito da coligação com Costa, na qualidade de presidente da Assembleia Municipal felizmente parece estar segura de que a proposta lesiva para os fundos públicos será derrotada, a qual, dizem, é encabeçada por Manuel Salgado, primo do outro e braço das direitas de Costa.
Quando o povo se revelava empenhado em perfilar-se maioritariamente à esquerda para, através do voto, afastar a coligação maldita no poder, Costa oferece, de bandeja, tais prebendas eclesiásticas ao arrivista e arruaceiro Nuno de Melo que, como bom “democrata-cristão” (da corda e do tacho) a disseminou com eficácia no ‘facebook’ .
Neste ambiente de sarilhos e falta de categoria que caracteriza os políticos portugueses – salvo claro excepções e Mariama Mortágua é uma delas – o desmentido categórico da Comissão Europeia de que, afinal, os nossos desequilíbrios económicos e sociais permanecem graves e sob vigilância; sim quando há esta oportunidade de ouro de desmitificar a propaganda de Coelho, Portas, Pires e da amanuense Albuquerque, humilde servidora de Herr Wolfgang Schäuble, Costa inflige dura derrota aos cidadãos ansiosos, e são muitos,  por derrubar um governo dos mais reles e injustos que a nossa democracia conheceu.

(Obs.: não faço qualquer menção a Seguro, porque o que teria a escrever seria, no conteúdo, idêntico ao que redigi a propósito de Costa. A realidade é que o PS vive uma crise de liderança e não tem com quem a resolver.)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Surpresa de Paulo Azevedo (Sonae) equivale a incompetência

O empenho do inquilino do Palácio de Belém, em sucessivas e entusiásticas manifestações de amizade junto do homólogo de Luanda, tem servido de estímulo e impulso ao “estreitamento” de relações entre sociedades portuguesas e angolanas – ou dito de forma mais clara, com a filha mais velha de José Eduardo, Isabel, e mais meia-dúzia de poderosas figuras da oligarquia angolana; casos do general ‘Kopelika’ e do famoso Sobrinho que liderou o BESA até ao naufrágio do BES e do GES  com o outrora poderoso Ricardo Salgado no comando.
Sob a orientação superior de Paulo, filho do ‘digno’ e ‘decoroso’ Belmiro, a Sonae decidiu desenvolver e aplicar um plano estratégico para lançar o negócio dos hipermercados ‘Continente’ em terras angolanas, em parceria com Isabel dos Santos.
Paulo tramou-se e agora lamenta-se da fuga de dois quadros, ao que se percebe, com funções cruciais no projecto em causa. Miguel Osório e João Seara, assim se chamam segundo o ‘Público’, traíram e abandonaram o patrão Paulo, a fim de trabalhar directa e exclusivamente para Isabel dos Santos.
Na mesma onda dos promotores portugueses dos investimentos no BESA e da PT, esta última com a Unitel dominada por Isabel, e de outras empresas cuja listagem seria demasiado exaustiva, a Sonae, certamente, foi alvo de uma golpada que não me causa a mínima perplexidade.
É do conhecimento geral que o mundo dos supernegócios de Angola, onde impera a filha do presidente daquele País, é caracterizado pela volatilidade dos compromissos dos empresários locais, sobretudo os poderosos. Quando a esse fenómeno se combina com a vulnerabilidade e quebra dos preços do petróleo, então estamos conversados…
De facto, Paulo de Azevedo, à semelhança de outros gestores qualificados com cinco e seis estrelas, cometeu o erro elementar de ignorância da qualidade da parceria e do país anfitrião. Agiu com falta de segurança e desprezou riscos das parcerias com membros da oligarquia angolana, robustecendo a incompetência mediante a selecção de dois colaboradores de alto nível, mas infiéis.
Este e outros episódios prestam-se também a revelar que, do ponto de vista teórico, grandes empresários e membros próximos de ‘staff’ revelam desconhecimento da bicentenária teoria de Adam Smith da ‘liberdade do mercado’, centrado no seguinte pensamento:
“[Adam Smith descreveu a auto-interesse e da concorrência em uma economia de mercado como a "mão invisível"]”,
Isto, justamente, quando é corrente na economia global em voga, o sentido neoliberal se fundamentar nos citados conceitos básicos da tal «mão invisível’. Por um e por outro lado, pura e simplesmente, à superestrutura da Sonae nem lhe passou pela cabeça assegurar-se a tempo com mecanismos legais preventivos, para acção em tribunal internacional. Sim, porque no sistema de justiça angolano nem uma causa será ganha por entidade estrangeira contra a filha do presidente Eduardo dos Santos, mesmo que a razão penda integralmente para o seu lado.
No fim de contas, e talvez impelido por sentido de revanche, penso que quem amontoa fortunas a pagar salários de 500 euros brutos, para trabalho a tempo inteiro, ou 250 euros, a meio-tempo, a muitas centenas de concidadãos, assim como a explorar os fornecedores mais frágeis com preços deprimidos e prazos de pagamento alargados; penso que quem assim actua, dizia, umas vezes merece suportar o alto custo de ser burro em terra estrangeira.  

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Ser espectador da “democracia” actual

O espectáculo é demasiado intenso e dinâmico. Da casa à rua, mesmo que contrariado, sou espectador frequente. Umas vezes divertido, outras revoltado e perplexo, leio as páginas dos jornais – nos ditos sensacionalistas, os títulos e pouco mais. Percebe-se que, de entre outras características, Portugal é um país de segredos. Tem casa própria para estes e um centro produtor prolífero em sede judicial.
Todavia, temos segredos e… segredos. Jamais, por exemplo, temos acesso ao conteúdo do esconderijo de certos casos e causas sigilosas – onde está o rosário de contas do caso BPN? Insisto: o que se passa com os protagonistas Oliveira e Costa ou Dias Loureiro? O silêncio tem razões inatingíveis.
Na refrega entre forças partidárias, em função deslocações no arco do poder, temos arguidos beneficiários de fino e confidencial trato e outros sujeitos à persistente fuga dos segredos de justiça. Que justiça? A portuguesa, a autenticamente nacional que Paula Teixeira da Cruz, Ministra da Justiça (!), definiu de forma transparente e eloquente, a propósito das escutas:
“Falo para o telefone como se fosse para um gravador”.
A um arguido, independentemente da condição social ou política, é reconhecido o direito à presunção de inocência até o processo transitar em julgado. Engana-se quem imagina que as minhas preocupações se reduzem ao caso de Sócrates. Derramam-se, essa é a verdade, por outros casos de aparente conivência e acção ineficaz das autoridades judiciais; em atitude atentatória da dignificação do sistema de justiça inerentes aos direitos tradicionais e inalienáveis de um regime democrático.
Constatar o funcionamento inquinado do nosso sistema de justiça suscita desconforto. Tem, em minha opinião, um efeito confrangedor idêntico ao espectáculo que bastas vezes assisto, ao ver grupos enormes de gente ‘sem-abrigo’ à volta de carrinhas de instituições de acção humanitária. No Saldanha ou na Praça de Londres, ou ainda por outras paragens onde abunda a aristocracia lisboeta, incluindo políticos na actividade, é pungente ver homens e mulheres esfarrapados; envoltos em trapos para mitigar o frio, de ar faminto, a ingerir uma sopa e um pedaço de pão num acto tão rápido e muito sôfrego.
É igualmente penoso vê-los isolados: um aqui, outro a dez ou vinte metros do primeiro, acamados em placas de cartão canelado que, sob a fermentação a quente dos golos do tinto, os confortam e gradualmente os matam, nas noites gélidas vividas compulsivamente ao ar livre.
Segundo notícia recente, a região de Lisboa concentra cerca de um terço dos ‘sem-abrigo’ em Portugal. “Benefícios” da capital e arredores… ou melhor, da moirama.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O indecoroso Passos Coelho e a dureza pobreza

Fátima é um lugar de fé. De ilusões, jamais de certezas. Segundo Passos Coelho e seus acólitos presentes nesta hipócrita sessão de solidariedade social -  Dom Manuel Clemente, o cardeal de equívoco humanismo nomeado há semanas pelo Papa Francisco, provavelmente esteve presente. Todavia, mesmo que ausente, a sua alma mater, produzida a escopo desumano, reduzir-se-ia a imitação precária de mármore de Carrara. A incandescência é superficial e um fenómeno de obstrução visual.
De pedra bruta, símbolo da rigidez inflexível e severa falta de humanidade, construiu-se a falsa crença do descarado e condenável embuste de Passos Coelho; considerar os dados da pobreza em Portugal em 2013 (INE) melhorados no ano seguinte.
Concretamente, Passos Coelho negou que o índice de pobreza em 2013, 19,5% contra 18,7% de 2012, já não correspondia à situação actual.
De facto, existem informações de origens fidedignas de que esta ilação é falaciosa, Justamente por evolução em sentido em inverso ao da descarada propaganda de Passos Coelho.
Com efeito, existem números tratados por entidades fidedignas de que, em 2014, a percentagem  de portugueses em situação de pobreza já atingia cerca de 24% da população total - praticamente um ¼ dessa mesma população.
Um reles desta ordem, Passos Coelho, deveria ser compelido a provar em tribunal - Juiz Carlos Alexandre, allot, allot! – as afirmações ilusórias que a comunicação social difundiu, e das quais, uma vez mais e como no caso de outros políticos do “arco” da governação, o dito Passos Coelho,  um dos mais descarados aldrabões da nossa história recente, sairá impune.
Declaro solenemente que não receio confrontar-me judicialmente com o reles político de Massamá.
Amedronto-me tanto como em relação a Ricardo Salgado, sobre quem escrevi este ‘post’ em 5 de Fevereiro de 2013, certo de que, no altura e ainda hoje, a razão estava do meu lado .
Talvez, no jeito de suavizar a conversa, possa ser interessante citar Vinícius de Moraes que dizia:
“Não há Paz,
Não há Beleza”
e replicar, com impiedosa brutalidade, que aqui, em Portugal, nesta hora só há Merda!