É Dia Internacional da Mulher.
Cumpro o ritual, homenageando sentidamente as mulheres.
Respeito a efeméride em memória
das mulheres emanantes das saudades mais longas da minha vida – as minhas quatro
bisavós; conheci-as todas. Jamais sairão da minha memória. Elas e todas as
outras com quem urdi diferentes laços familiares ou de amizade. Pesam, sobretudo,
os afectos naturais da família, essa célula social elástica. Ora se contrai,
ora se dilata, cadenciado pelo ritmo de quem parte e de quem chega.
Às mulheres da minha vida, mas
também a todas as outras jamais esquecidas de o ser – algumas, detentoras de poderes de obscena tirania, constituem um terceiro e abjecto grupo que me
repugna – presto a minha homenagem através da combatente antiglobalização, Arundhati Roy. Uma mulher
de elevado estatuto intelectual e ético. Nascida na Índia, país onde são correntes
ignominiosas acções de violência e segregação de mulheres, a luta de Arundhati
por um mundo justo adquire maior significado quanto à coragem de combater em
meio adverso e que os homens dominam. Eis um trecho do seu livro ‘O Fim da Imaginação’:
"Os jovens trocistas e esganiçados que derrubaram o Babri Masjid
são os mesmos cujas fotografias apareceram nos jornais nos dias que se seguiram
aos testes nucleares. Estavam nas ruas, a celebrar a bomba nuclear indiana ao
mesmo tempo que “condenavam a Cultura Ocidental” esvaziando grades de ‘Coca-Cola’
e ‘Pepsi’ nas sarjetas. A sua lógica deixa-me algo perplexa: a ‘Coca-Cola’ é
Cultura Ocidental mas a bomba nuclear é uma velha tradição indiana? "
A pergunta de Arundhati é provocadora e satírica, mas em
simultâneo reflecte a visão que sustenta para os problemas universais da
humanidade. Trata-se de um domínio de luta a juntar a tantos outros, alguns
bens ancestrais, em que as mulheres têm de se empenhar. Muitas de vós superam os
homens nas lutas por transformações sociais, digo-o com convicção e sem hipócrita
adulação.
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