O povo está desesperado, mas não perdeu a esperança e a confiança na luta. Hoje, na minha cidade, Lisboa, vamos sair à rua em massa. Temos de lutar, desdenharemos a opinião dos acomodados, daqueles que tem das manifestações a imagem dum ritual folclórico; do velho tonto que ainda tem uma fotografia de Salazar na carteira e que concorda com os cortes da pouca reforma que aufere - venham mais - diz o pateta para todo o café ouvir.
Ninguém o ouve. O que verdadeiramente é importante e dramático para aqueles frequentadores do café do bairro é terem dois filhos desempregados há mais de 2 anos; sofrerem a incontinência do choro nocturno e pela calada da noite a fome dos netos, mitigada pela sua ajuda e ainda da escola que frequentam. Ali ao lado, um sexagenário cardíaco, e com reforma reduzida, queixa-se de ter aguardar oito meses para ter uma consulta da especialidade no hospital; às vezes, com dificuldades respiratórias lá vai ao Banco com a ajuda monetária do filho. Sempre tem de pagar à cabeça 20 euros, mas se fizer análises e exames de imagiologia, a conta chega aos 50 euros.
Lembram no café os que partiram para trabalhar no estrangeiro; as famílias desagregadas, os filhos que a toda a hora perguntam se o pai está bem, lá tão longe. A mãe diz-lhes que sim, embora as coisas não sejam bem aquilo que lhe prometeram.
Este café é um quadro do vivo de um Portugal inteiro, que uma 'troika' diabólica e irresponsáveis garotos, golpistas e tecnocratas humilha sem compaixão nem respeito. Agora, são mais 4 mil milhões de cortes, o desemprego dispara, as lojinhas do bairro, uma a uma, vão fechando.
Por isso, daqui a uma hora lá estarei no Marquês de Pombal, com milhares de cidadãos que, comigo, sofrem de um país doente e de um governo de severa maldade e irresponsável.
Por isso, daqui a uma hora lá estarei no Marquês de Pombal, com milhares de cidadãos que, comigo, sofrem de um país doente e de um governo de severa maldade e irresponsável.
Mas o tonto do velho lá continua, a provocar quem não lhe liga. De súbito, as palavras que lhe ouvi trouxeram-me à memória o João Proença da UGT. Longe do povo, já afirmou que aquela central não adere ao protesto.
Também pouco interessa que ele não vá. Vamos estar lá muitos, muitos mesmo, e alguns até filiados em sindicatos da UGT, todos a gritar: "Que se lize a troika e o governo".
Alguma vez a absurda personagem de Belém há-de ouvir-nos e afastar este tenebroso governo.
Sem comentários:
Enviar um comentário