sexta-feira, 8 de junho de 2012

A descredibilização das estruturas institucionais da UE

schengen‘O espaço e a cooperação Schengen’ tem sido, desde sempre, tema de controvérsia entre países europeus e no seio das suas sociedades. Recorde-se que o início do debate remonta a 1985, ano em que a totalidade dos ‘Estados-Membros’ não chegou a acordo. França,  Alemanha,  Bélgica, Luxemburgo e Holanda deliberaram, então, criar entre si um território sem fronteiras, denominado “espaço Schengen”, em honra da cidade luxemburguesa onde os primeiros acordos foram firmados.
Portugal e Espanha, saliente-se, só aderiram ao acordo em 25 de Junho de 1991; isto é, 5 anos depois do ingresso na UE.
Os protagonistas e peripécias do acontecimento provam a falsidade da tese de única responsabilização dos países do sul da Europa por acrescidos riscos de insegurança, exposta em comentários a esta notícia.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

‘ABC’ de Espanha – o que lá fora se escreve de Portugal

Portugal-FMI
Fonte: Presseurop
Viver sob o regime férreo da troika
Sob este título e com a ilustração da imagem acima reproduzida, o jornal ABC publicou um artigo sobre Portugal, cujo 1.º parágrafo diz:
Há 14 meses que o país vive sob a vigilância do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, que lhe emprestaram o dinheiro para fazer face às suas dívidas. No momento em que os enviados destes financiadores verificam localmente a aplicação das reformas, a população reclama "mais tempo, mais dinheiro e melhores condições".
A peça jornalística, na íntegra, poderá ser lida aqui.
Tenho o hábito de, com frequência, investigar e ler o que a comunicação social estrangeira diz do Portugal de hoje. Sem preconceitos de privilegiar análises e opiniões de direita ou de esquerda. No caso presente, a escolha recaiu sobre o jornal espanhol ‘ABC’, consabidamente, alinhado à direita.
O texto do jornalista Pedro Rodriguez transmite com transparência as profundas dificuldades sentidas por milhões de portugueses, a quem, para além do MoU da ‘troika’, o governo de Passos Coelho impôs medidas de austeridade agravadas. Caso, por exemplo, dos subsídios de férias e de Natal retirados a funcionários públicos, reformados da f.p. e pensionistas do sector privado.

Na Grécia: os neonazis em acção

“Os actos ficam com quem os comete. O partido não deve ser penalizado pela agressão”, apressaram-se a comunicar os dirigentes do partido neonazi grego, ‘Amanhecer Dourado’. Resta esclarecer que Ilias Kasidiaris, o agressor, é deputado e o porta-voz do citado partido; pelos vistos, um dos mais insanos agressores do bando. Haverá outros, certamente.
O perfil deste neonazi, Ilias Kasidiaris, é fácil de descrever. Trata-se de um marginal, nomeadamente com antecedentes em envolvimento em assalto à mão armada. Não gostou que isto lhe fosse lembrado e, sem hesitar, partiu para uma lamentável cena de desacato e agressão a deputadas do Syriza e uma comunista, participantes no debate.
Nada de novo em relação ao que a História já registou e do muito que sabemos de ciência certa dos comportamentos de neonazis.
Os lusos, de cabeças rapadas, com poses e palavras de ordem inflamadas, vão andar por LIsboa, no 10 de Junho. A ideologia e a prática política enquadram-se em padrões idênticos. 
A democracia é sempre mais tolerante e generosa, mesmo com aqueles que a desrespeitam; embora, no caso grego, a ignóbil criatura  fosse imediatamente alvo de mandado prisional por crime de agressão. Esperemos que o povo grego os venha a punir nas urnas.

Do PSD crítico, agora é Rui Rio a sair a terreiro

No âmbito das comemorações do 1.º ano de governação PSD+CDS, já Manuela Ferreira Leite, a propósito da austeridade, afirmara, em Setúbal, que o tratamento em aplicação ao País, por demasiado violento, contem o risco de matar o doente.
Chegou, agora, a hora de Rui Rio afinar por idêntico diapasão. O autarca do Porto recomendou ao governo que, logo que possível, faça ajustes no memorando da ‘troika’.  Foi até mais assertivo e no discurso abordou especificamente:
1) Necessidade de crescimento económico;
2) Jogar no eixo do tempo, para escolha do momento da introdução dos ajustes;
3) Apelo ao patriotismo da banca, revestida de crítica de falta de apoio à economia e ao sector exportador em especial;
4) Crítica aos cortes – “pesadíssimos”, diz – de salários na função pública,  coincidentes, de resto, com privilégios de salários elevadíssimos atribuídos a alguns.
No espaço de dias, Rio é a segunda voz que, no seio do PSD, se manifesta contra a política do governo. É positivo que a ideologia e práticas neoliberais do governo de Passos Coelho sejam também combatidas desde o interior do principal aparelho partidário que o sustenta.
Todavia, penso que os factores decisivos para vencer o desastre em curso consistirão, sobretudo e infelizmente, no extremar e prolongamento da recessão económica e nos efeitos sociais e económicos que, como sempre, levarão os cidadãos a nova expurgação governativa. O descontentamento cresce na proporção da presunção de Coelho de que, impunemente, tudo poderá fazer a um povo paciente, sem voz e com muita resignação. A “main street”, em tempo oportuno, há-de desiludi-lo. Creio.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Desemprego jovem: as políticas do governo e o fenómeno na economia global

(Nota prévia: podem ser consultados documentos, aqui e aqui)
O ministro Relvas anunciou ao país a criação de apoio às empresas que contratem jovens desempregados de longa duração. Desconhece-se os parâmetros exactos e o conceito de ‘longa duração’. Todavia, devido às características e limites do incentivo, podem extrair-se de imediato conclusões importantes:
1) As empresas contratantes dos jovens beneficiam de uma redução de 90% da TSU e, portanto, o orçamento da Segurança Social, em execução com saldos problemáticos, será afectado; a menos que a UE, como afirmou Barroso, cubra parte relevante da perda de receita;
2) O incentivo estará restringido por um limite em valor absoluto de € 175,00, o que se traduz na promoção de um plafonamento salarial,  de € 700,00, traduzíveis em € 585,00 líquidos, comprovando a política de baixas remunerações de que o governo é paladino defensor e activo promotor;
3) Segundo o ‘Jornal de Negócios’, no âmbito do programa será permitido às empresas realizar contratações a termo, prerrogativa que nega a afirmação de Miguel Relvas no sentido de que o governo estava a combater a precariedade;




Jovens americanos fora do mercado de trabalho

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Muitos jovens americanos saídos do ensino secundário estão também fora do mercado de trabalho
Para esta geração de jovens, o futuro parece sombrio. Apenas um em seis está a trabalhar em tempo integral. Três em cada cinco vivem com os pais ou outros parentes. A grande maioria — 73 por cento — acha que eles precisam de mais educação para encontrar uma carreira de sucesso, mas apenas metade das pessoas diz que os vai inscrever definitivamente nos próximos anos.
Não, eles não são os jovens ociosos da Grécia ou Espanha ou Egipto. Eles são a juventude da América, o país mais rico do mundo que não têm graduação escolar e não a obterão em breve.
Quaisquer que sejam as histórias sobre recém-formados girando as rodas da vida como empregados de bar ou oficiais de Justiça, a situação de seus pares menos educados é muito pior, de acordo com um relatório do centro John j. Heldrich do Centro de Desenvolvimento da Força de Trabalho na Universidade de Rutgers, programado para ser lançado na quarta-feira. Os dados provêm de um levantamento nacional de graduados do ensino secundário que não estejam matriculados em faculdade em tempo integral, uma população notoriamente transitória que cientistas sociais e outros especialistas tinham tido o problema de controlar. (Nos dois meses desde que o levantamento foi realizado, uma grande parte dos participantes tiveram os seus números de telefone desligados e não puderam ser abordados.)
Para este grupo, encontrar trabalho que pague um salário digno e ofereça algum sentido de segurança tem sido evasivo.
"Eu quero mais dinheiro, e realmente não gosto do que faço", disse Walter Walden, 24, de Wenatchee, Washington, um dos sortudos Membros deste grupo que tem um emprego a tempo inteiro, neste caso, num restaurante. "Eu tive de regressar à escola". Agora vive com a sua mãe para que possa frequentar aulas de enfermagem em parte do tempo.

Um primeiro-ministro híbrido

Hibrido_Coelho
Fonte: Juxtapoz
O processo é comum em líderes políticos. Quando sentem o apoio popular a fugir-lhes, socorrem-se de hipócrita agradecimento ao povo. Tentam fazer esquecer os tempos das garras afiadas e dentes em riste, a destruir rendimentos, eliminar empresas e empregos e a  violentar os desempregados com insensibilidade e ofensas repugnantes – agora, parece, chegou a hora dos paliativos aos jovens desempregados.
Nas pouco entusiastas celebrações de um ano do governo ‘laranja’, lá se esmerou o Coelho a exultar a paciência dos portugueses. Um dia destes, porém, metamorfoseado em tigre, servir-se-á de impiedosas garras para atacar com  mais medidas de austeridade. O programa da ‘troika’ está a gerar efeitos sociais e económicos nocivos, mas a consolidação orçamental, o objectivo sagrado do défice, tem de ser alcançado nem que seja à força do cacete.
Temos, pois, um PM híbrido. O disfarce de coelho é dominado pela expressão ameaçadora e violenta do tigre.

terça-feira, 5 de junho de 2012

O tremebundo da Zona Euro alarma o G-7

O jornal ‘Público’ também anunciou aqui. Todavia, a notícia do ‘El País’ é mais precisa e, do respectivo texto, transcrevemos o 1.º parágrafo:
Os Ministros das Finanças dos países do G-7 realizarão às 13 horas desta terça-feira (hora espanhol peninsular) uma reunião de emergência por videoconferência para discutir a situação delicada do euro zona com Espanha e a Grécia como principais focos de tensão. A convocatória extraordinária, que não é comum e que, em qualquer caso, os temas não são anunciados, destaca as crescentes dúvidas que desperta a crise europeia a nível internacional e o receio que seus problemas estão a afectar o resto da economia mundial. Após o resgate da Grécia, Irlanda e Portugal, o alarme está agora na crise bancária espanhola e nas próximas eleições gregas, a serem realizadas em 17 de Junho e que poderão levar à saída de Atenas da moeda única.
Bem pode o governo português cantar vitórias; espúrias e falsas, de resto. O problema, infelizmente, centra-se no ‘sistema financeiro’ e na falta de liquidez generalizada da banca da Zona Euro. A ponto de se tornar um problema mundial.
A erupção da banca teria de irromper por algum lado. Calhou a Espanha. A saída da Grécia da Zona Euro significará também a falência da solução da ‘troika’; a somar, diga-se, à trapalhada nas contas públicas gregas, sob assistência da Goldman Sachs – essa mesma, a Goldman Sachs desse figurão que dá pelo nome de António Borges.
Dentro de algum tempo, Coelho poderá perder a Grécia como paradigma para afirmar a superioridade portuguesa. Resta, porém, saber o que dirá e como reagirá aos acontecimentos no país do seu grande amigo Rajoy.
A súbita videoconferência do G-7 assenta em preocupações fundadas dos líderes mundiais; e nenhum discurso de artificial optimismo as negará, em qualquer jantar no Beato. Onde, como sabemos, não há petróleo.
 

Um ano de emagrecimento

ano de emagrecimento
Fonte: Juxtapoz
O outro deixou-nos nas lonas. O Coelho extirpou-nos gorduras, músculos e tecidos dos sistemas orgânicos. O português de hoje é, pois, um esqueleto, que, todavia, se balança impelido pela‘troika’.
É útil mostrar à Sra. Angela Merkel e ao mundo que, embora feitos em ossos, permanecemos em movimento e mais longe do abismo. Os abismos não apreciam esqueletos. As sepulturas, gavetas e incineradoras dos cemitérios, essas sim.
Tétrico? Talvez. Mas, sobretudo, uma imagem e caricaturas do mundo real.

Passos e Ferreira Leite, a dissonância

Fiquei abismado com as declarações proferidas por Passos Coelho, na jantarada da Câmara de Comércio Luso-Alemã: “os portugueses já não estão perante o abismo”, disse. Entre sudetas, sê sudeta.
A população portuguesa vive o período mais negro do período democrático. O PM, desqualificado politicamente, insensível, vesgo, surdo e demagógico, opta por dourar a pílula.
Um caso: o desemprego é elevado e continuará em via ascendente – cerca de 16% em 2013, segundo previsões do governo. Até a própria ‘troika’ – hipocritamente, eu sei – se mostrou preocupada na declaração de avaliação do programa que o desencadeou.
Todavia, registe-se, o PSD, principal partido do governo, fala a duas vozes. Dissonantes, obviamente. Manuela Ferreira Leite, ao falar em Setúbal, considerou que a consolidação das contas públicas devia ser feita de forma "mais lenta, mais pausada, para não se matar o doente com o tratamento".
Quando Passos imagina um País afastado do abismo, Ferreira Leite adverte que a violência do tratamento poderá matar o doente, esse mesmo País.
Alguma dúvida de que a razão está com Ferreira Leite? Apesar de discordar dela em muitas ocasiões, há momentos de evidências incontestáveis.