A luta nas primárias do PS é natural
disputa pelo comando do partido. Ao mesmo tempo, os candidatos visam chegar à condição
necessária e suficiente da competição nas legislativas de 2015 e liderar a
governação do País.
Seguro, actual secretário-geral,
e Costa são os concorrentes. Há uns quantos comentadores políticos a qualificar
de traiçoeira a candidatura de Costa, opinião que respeito mas da qual
discordo.
No passado dos partidos
portugueses, pós-25 de Abril, já houve cisões e dissensões, algumas criando
facções de secessão da unidade de grupos parlamentares (ASDI
no PSD em 1979, por iniciativa de Sousa Franco, Magalhães Mota e Sérvulo Correia);
a demissão de Sá Carneiro e substituição por Emídio Guerreiro da presidência do
então PPD/PSD em 1975; as páginas mais negras da actividade política de Mário
Soares que culminaram com a expulsão do PS de Salgado Zenha e o afastamento de
Vasco Gama Fernandes … enfim, uma lista de acontecimentos que tipificam os
conflitos no seio das forças partidárias portugueses – e não esquecemos os
confrontos Manuel Monteiro e Portas no CDS.
Os críticos da atitude de Costa,
e naturalmente favoráveis à tese de traição argumentada por Seguro, em sintonia com a
verdade ou melhor informados de factos históricos, automaticamente concluiriam
que os partidos como organizações de conquista do poder, dificilmente se podem considerar
santuários de almas purificadas.
Se quisermos ler a história do
acesso de Seguro a secretário-geral, talvez fosse útil revermos as imagens do Tozé,
seguido de Jamila, sair do elevador do Hotel Altis e declarar-se candidato com
um sorriso de orelha a orelha, pela oportunidade, ou seja, pela derrota do
grande inimigo José Sócrates.
A partir de então, Seguro começou
por visitar uma a uma, todas as secções do PS do País. De manhã, estava em
Valença do Minho, à tarde em Monção; no dia seguinte em Vila Real de Santo
António para terminar a jornada em Portimão. Saiu da ‘jota cor-de-rosa’. Não
tem atributos especiais no currículo, senão o opaco cargo de ministro-adjunto
de Guterres. As habilitações académicas, por sua vez, também não ajudam muito:
desistiu rapidamente do ISCTE e licenciou-se, mais tarde, em Relações
Internacionais na UAL.
Impreparado, e longe do
curriculum académico, profissional e político de Costa, nesta refrega por ele
tão inesperada como indesejada, tem optado por uma campanha pura e simplesmente
reles, recheada de golpes (as inscrições em Braga), de vitimização pacóvia (o
cravo plantado e arrancado pelo adversário), além de outros episódios e
discursos brejeiros.
Seguro transpira a ausência
completa de ideias para o futuro do País. A tarefa do próximo governo prevê-se ainda
mais complexa, mas ele vale-se de expedientes que a comunicação social
portuguesa, sob o culto do sensacionalismo, vai espalhando por todos os cantos.
O interesse nacional sai naturalmente esfacelado.
Ontem, acompanhado de Maria de
Belém, apareceu com António Arnaut, nos jardins da sede do PS, no Rato /
Lisboa, a comemorar os 35 anos do SNS - um escasso trio para uma celebração que
deveria obedecer a critérios de grandeza e de dignidade. E Seguro discursou,
como fosse legítimo parceiro do Dr. Arnaut, do saudoso Dr. Albino Aroso e de outras
ilustres figuras que estiveram nesta obra desde o lançamento da 1.ª pedra – António
José Seguro tinha, então, 17 anos e penso que ainda não havida descido à
capital que, segundo os últimos discursos, passou a detestar, atacando doentiamente
os lisboetas.
Seguro não tem capacidade para mais
do que replicar o papel dos Dupondt. O projecto ‘Novo Rumo’, inspirado em
contributos de diversos socialistas, é um documento redundante e que, nas 80
medidas contidas, apenas pequena parte é da lavra da sua equipa, onde se
destaca um opaco Brilhante Dias. Hoje,
na Sede do PS, comunicou aos portugueses que, até ao final de 2014, que ver
aprovada a ‘nova lei eleitoral’ – com a particularidade de ontem, em acto
realizado por alguns elementos afectos à SEDES, Luís Campos e
Cunha, ex-ministro de Sócrates, ter divulgado um manifesto cujo teor, pelos
vistos, Seguro copiou.
Registe-se, na hipócrita
declaração de Seguro à concessão da liberdade de votos aos parlamentares
socialistas sobre a ‘nova lei eleitoral’, o cinismo cruel de lançar a divisão
entre socialistas. Este homem é, de facto, deplorável.
Seguro está a demonstrar,
dia-a-dia, ter perfil para ser o candidato a primeiro-ministro que a direita,
PSD e CDS, não desdenharia e, pelo contrário, ambiciona de forma muito
obstinada.
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