Do prazer ao rancor, assim posso
sintetizar a evolução dos meus sentimentos em relação ao futebol.
Há que hierarquizar os
acontecimentos da vida colectiva. Nos actuais tempos de crise em que as
sociedades europeias estão mergulhadas, com milhões de cidadãos punidos pela
pobreza e mesmo a miséria, obsceno é o menor dos desqualificativos apropriado
para etiquetar o negócio
do futebol actual.
Mesmo incluindo a Alemanha, expressão do
domínio económico do Velho Continente, na União Europeia (28 países) sobrevivem
24.850 milhões de desempregados e na Zona Euro (18 países) o desemprego, a uma
taxa de 11,5% em Julho 2014, atingiu 18.409 de cidadãos de ambos sexos.
O desemprego juvenil é
naturalmente elevadíssimo: 5.062 milhões de jovens é a estimativa; sublinho estimativa,
porque aos cálculos do Eurostat
partem de critérios, os quais Portugal também aplica, e conforme o ‘Expresso’
demonstra à exaustão, na edição do último Sábado, menorizam ardilosamente a
dimensão real deste desastre social.
É neste cenário de falta de trabalho,
de remunerações ao nível da escravatura dos tempos modernos, de crescente
número de famílias na pobreza e miséria, que os milhões e milhões de libras ou
euros aplicados na transacção de jogadores de futebol me agitam a alma. A revolta
é impulsionada por essa gentalha triunfadora da desgraça e da falta de tino
alheias, pertençam à mafia russa, às oligarquias árabes ou grupos privilegiados
– um exemplo destes últimos é constituído pelos dirigentes do Real Madrid e
Barcelona, com gastos de 161 milhões de euros em dois jogadores, Suarez e James
Rodriguez, ambos colombianos. Todavia, a taxa de desemprego em Espanha era de
25,2% em Julho passado, a segunda maior dos 28 países da UE depois da Grécia
com 27,2%.
Nas terras de sua majestade, que poderão
ficar amputadas da Escócia, apenas um clube, Manchester United, investiu 188
milhões de euros. Em Portugal, confinado à sua pequenez, através dos 3 grandes
também se transaccionou, na compra e venda, diversos jogadores, na casa de
alguns milhões. Mais de 20, estou certo.
Esta sociedade do futebol e de
outras ignomínias, a mim, aqui neste interior de Portugal de velhos e pobres,
causa-me indignação, mas igualmente sofrimento. A Comunicação Social, SIC
Notícias e TVI 24 em especial, com vastos tempos de antena dados ao futebol,
pela voz de alguns impreparados que praticam uma espécie de AO falado, suscitam-me
repugnância.
O retorno de Judite de Sousa,
cuja dor da perda de um filho respeito, parece-me não ter sido a mais
recomendável, ao escolher o CR7 para a entrevista de regresso.
Outras figuras portuguesas, bem
menos propaladas e de elevado prestígio no mundo científico, mereceriam a
preferência desse destaque – a Prof.ª Elvira Fortunato
ou o Prof.
Sobrinho Simões ou a Prof.ª Maria do
Carmo Fonseca ou qualquer outro dos muitos investigadores, mulheres e
homens da ciência. Compreendo e refuto a razão por que foram preteridos: não pertencem ao abominável mundo da ‘imprensa
cor-de-rosa’.
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