A imprensa portuguesa, escrita,
em áudio ou audiovisual, prefere ser omissa e ignorante de factores e riscos graves para
a debilitada vida dos cidadãos. Por norma, descura ‘problemas agudos a que o
País está sujeito’; problemas estes que, diga-se, podem envolver uma dimensão
geográfica mais ampla – Zona Euro – e, porque assim é, mais complexos se tornam
para o pequeno país e a débil economia que somos.
Hoje, porém, fez-se alguma luz na nossa comunicação social. O ‘Público’
alerta:
“A taxa de inflação homóloga em Portugal
caiu em Outubro para -0,2%, o valor mais baixo desde 2009…”
Sinto um primeiro mal-estar, por
saber que esta notícia da Zona Euro estar sob o risco de deflação já tem dias,
sem ter sido divulgada em Portugal. De resto, foi esse motivo para o Sr. Draghi
anunciar a redução da taxa de refinanciamento do BCE de 0,50 para 0,25%.
Trata-se da reacção do BCE ao
decréscimo da taxa de inflação para 0,7% em Outubro, inferior a 1,1% registado em
Setembro. Draghi e companheiros perseguem o objectivo de manter a inflação ligeiramente
abaixo dos 2%.
A queda da inflação, se
continuada, pode obviamente transformar-se em deflação e é este o fenómeno temido.
No ‘site’ da CNBC há dois dias, poderia ler-se o seguinte:
No título da notícia,
questiona-se: “Está a zona euro em risco
de deflação ao estilo do Japão?”. Há mais de década e meia que os nossos
amigos nipónicos lutam contra esse mal e só agora parecem iniciar a fuga ao
problema.
Outros ‘sites’ referem-se ao
tema. Por exemplo, aqui,
a Bloomberg em 7 de Novembro.
Os resultados da deflação são
desastrosos: as empresas baixam os preços, mas os consumidores retraem-se nas
compras e o investimento, entre nós já muito reduzido, declina pesadamente. O desemprego
aumenta, em função da eliminação de postos de trabalho.
Tudo isto, como não poderia
deixar de ser, é produto da política europeia imposta pela Alemanha e, no
tocante aos periféricos como Portugal, os resultados agravam-se em consequência
das desastrosas medidas de austeridade a que estamos submetidos pela ‘troika’.
O silêncio a este respeito, por
cá, é sepulcral. Nem ‘o escreve e fala barato’ Camilo Lourenço o aborda. A
Albuquerque nem saberá o que fazer. Passos e Portas entretêm-se a comentar
Machete, o ‘pivot’ do disparate. O PR assobia para o lado.
(Nota final: no caso de deflação, o mecanismo de alterar as taxas de
juro utilizado pelo BCE é de aplicação impossível; não descer abaixo dos 0%
e este é o drama que os japoneses tão bem conhecem).
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