domingo, 18 de maio de 2014

O corpo dos ‘Sapadores Empresariais’

No âmbito e objectivos da célebre obra ‘Caminho para o Crescimento’ – há quem prefira designá-la por ‘The Road to Growth’, sempre é mais fino – é intenção do governo incumbir o Banco de Portugal de um sistema de alertas para empresas em risco de falir.
Caso o BdP recorra a uma estrutura de alarmes e sirenes, haverás zonas do país inundadas de luzes intermitentes e de ruídos ensurdecedores; outras, em especial no vasto e abandonado interior, os poucos cidadãos continuarão entregues à escuridão e ao silêncio de idosos.
Bom! Temos a obrigatoriedade de afugentar a ‘pieguice’. O governo é neoliberal, conservador ao estilo do movimento norte-americano ‘Tea Party’, sendo nosso dever usar, por momentos, as lentes do populismo da propaganda oca mas pretensamente impressiva; não olhar a questões de humanismo e alinharmo-nos, o mais possível, pelo frio e tecnocrático pragmatismo de quem nos (des)governa e de um dos seus aliados de eleição, o FMI.
Esta do Banco de Portugal, a tempo, alertar as empresas em risco de cair na insolvência, através de um “corpo especializado de sapadores”, é uma ideia brilhante, susceptível de estar apenas ao alcance de cérebros muito, muito iluminados. Merecia o ‘Nobel’!
Todavia, de tão brilhante e profunda, a interpretação da ideia nos seus efeitos práticos torna-se difusa na luz, nos sons e nos resultados. Capaz de causar perturbadoras e legítimas dúvidas.
Independentemente dos casos de gestão incompetente ou mesmo danosa, as empresas, na vasta maioria, desenvolvem a actividade em função dos níveis de procura para os bens e serviços que produzem; ou então, dependem de centros de decisão externos, sujeitando-se essa actividade a orientações externas; no limite e com frequência, chegam ao encerramento por deslocalização das unidades produtivas.
A insolvência, na maioria dos casos, é um processo de degradação progressiva. Umas vezes, os empresários alimentam expectativas de que, mais cedo ou mais tarde, conseguem o ultrapassar as dificuldades. Outras vezes, o desenvolvimento é de tal intensidade e imposto por condições de mercado que, por atrofia, dificilmente logram vencer – as políticas macroeconómicas governamentais, variáveis naturalmente exógenas, são insuperáveis, nomeadamente quando há quebra de rendimentos e consequentemente da procura interna. Os mercados externos, como está demonstrado, estão sujeitos a factores incontroláveis.
Nas causas das falências, há, pois, que tomar em consideração os efeitos destrutivos do encerramento, por deslocalização, de unidades fabris estrangeiras que, na melhor das hipóteses, se transformam em entrepostos de produtos importados com uma redução mais do que drástica do emprego. Os efeitos no comércio local, da restauração a lojas de tipo diverso, são devastadores em termos de insolvências. Isto em acréscimo a fornecedores de bens e serviços convertidos em desnecessários – transportes, parte das matérias-primas, materiais de embalagem e outros componentes do processo produtivo.
O fenómeno de insolvência, ao contrário de actividades médicas, em grande parte não se cura com medidas preventivas e muito menos com cuidados paliativos.
A Economia Portuguesa, sofre de problemas estruturais graves que este governo adensou, sendo irrealista confiar que o sistema de ‘sapadores empresariais’ do BdP possa combater uma degradação empresarial, produto, na generalidade dos casos da subordinação à globalização e a um projecto lesivo e incoerente da criação do euro, fiscal e economicamente disforme. Portanto, incapaz de criar um modelo de integração e equilíbrio entre os países da Zona Euro, ou mesmo na UE28, que sirva de solução para a coesão económica e social tão apregoada quando da assinatura do ‘Tratado de Maastricht’, que ainda há dias o “sapiente incipiente” Cavaco, como subscritor, elogiou como o caminho seguro da salvação de um País que há 3 anos começou na tal bancarrota, da qual ainda hoje não estamos libertos. Basta continuar a ouvir a ameaça do 2.º resgate.
Esta gente do governo não serve para governar e também demonstra falta de condições e perfil para ‘bombeiros voluntários’. É especializada na demagogia e em iludir os governados. 

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