Primeiro, esclareço que estou a referir-me
a um blogue unipessoal, o meu ‘Solos sem Ensaio’; blogue unipessoal é expressão
de odores – ou dores? – de vítima fiscal, mas que a ministra, Dona Albuquerque, e o secretário de
Estado, Dom Núncio, nome de cariz tauromáquico, no entretanto não se lembraram
de converter em actividade passível de imposto, de contribuição ou de tributo
em matéria de fisco, mesmo transitória a tender para definitiva.
Os custos de contexto - moda instalada
no léxico dos gestores actuais em que se salienta o Saraiva da CIP - ocorridos com
o consumo electricidade, aquisição e renovação de licenças de ‘software’ e de antivírus, são praticamente os encargos
do bloguer individual. Do investimento no computador assim como em acessórios
complementares, apenas insignificante parte é imputável ao blogue.
Em súmula, e porque nem sempre é fácil, manter um blogue dá-nos cabo da cabeça e do tempo,
mas não é muito oneroso – isto pensava eu até alguns tempos
atrás. Todavia, há custos ocultos, esotéricos mesmo e inesperados, de que
apenas há duas semanas dei conta.
Tenho o hábito, sempre o tive, aliás,
de escrever acompanhado de dicionários das línguas em que redijo – português,
francês e inglês – em suporte próximo da secretária; esta mania em nada impede
a publicação de ‘posts’ com erros de morfologia, sintaxe ou outros;
recentemente, publiquei um texto em que escrevi “manifesta capacidade”, em
vez de “manifesta incapacidade”. Fui
lá, passado 2 dias, e emendei. Quem leu entretanto, pensou e comentou para si
próprio: – Este gajo escreve mal e sem sentido!
– E tenho de lhes dar razão.
Tudo isto, penso, é aceitável na
vida de um pobre bloguer. O que descuidadamente jamais imaginei é que, sentado,
a redigir um ‘post’ no PC, o
dobrar-me sobre o meu lado esquerdo para recolher os dois dicionários da ‘Academia
das Ciências de Lisboa’ me causasse um problema discal.
A dor é o sintoma que melhor
negócio proporciona aos médicos – pense-se no que sugam os estomatologistas com
as dores de dentes ou os urologistas a extrair pedras dos rins – e o factor muito
inibidor da função criativa de quem a sofre, por pouco imaginativo que seja.
Acabei por recuperar, justamente
nas vésperas do 25 de Abril, depois de cumprir uns dias de penitência com o impedimento
de escrever. Mas, precisamente no dia 25 de Abril, e porque ficaram alguns
resíduos da lesão discal na perna esquerda, ao regressar a casa da festa, pisei
pedras soltas de um passeio de calçada à portuguesa (foi vingança, porque a
odeio e acho incómoda) e fiz uma rotura de ligamentos que me impediram de
andar, sair de casa… e então de escrever nem falo.
O meu 25 de Abril, este ano,
transformou-se em mistura de satisfações e infelicidades. O Largo do Carmo e a
Avenida da Liberdade foram locais de alegria.
No Chiado, a minha ex-companheira
e autora no ‘Aventar’ Carla Romualdo, jovem portuense por quem tenho uma
respeitosa amizade e uma admiração pelo prodigioso talento (lamento que nesta
terra inundada de ‘escritores de aviário’ não publique um livro que a
destacaria certamente dos atrevidos e pobres escribas); a Carla, dizia eu, ia de carro, viu-me, chamou-me e,
entretanto, eu perdi-me, na multidão que por ali andava, sem a ouvir. Que tristeza
não ter tido o prazer de a rever!
Perto de casa, o passeio
derruba-me e cheguei a casa a coxear. Ainda tive disposição para responder a um
‘email’ da Carla, por se tratar dela,
mas fiquei arrumado até que as bolsas de gelo e os pensos ‘Trans Act’ me restituíssem ao blogue.
Aqui estou até ao próximo ‘post’ - ou lesão?
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