terça-feira, 6 de maio de 2014

O bloguer lesionado em pleno ‘post’

Primeiro, esclareço que estou a referir-me a um blogue unipessoal, o meu ‘Solos sem Ensaio’; blogue unipessoal é expressão de odores – ou dores? – de vítima fiscal, mas que a  ministra, Dona Albuquerque, e o secretário de Estado, Dom Núncio, nome de cariz tauromáquico, no entretanto não se lembraram de converter em actividade passível de imposto, de contribuição ou de tributo em matéria de fisco, mesmo transitória a tender para definitiva.
Os custos de contexto - moda instalada no léxico dos gestores actuais em que se salienta o Saraiva da CIP - ocorridos com o consumo electricidade, aquisição e renovação de licenças de ‘software’  e de antivírus, são praticamente os encargos do bloguer individual. Do investimento no computador assim como em acessórios complementares, apenas insignificante parte é imputável ao blogue.
Em súmula, e porque nem sempre é fácil, manter um blogue dá-nos cabo da cabeça e do tempo, mas não é muito oneroso – isto pensava eu até alguns tempos atrás. Todavia, há custos ocultos, esotéricos mesmo e inesperados, de que apenas há duas semanas dei conta.
Tenho o hábito, sempre o tive, aliás, de escrever acompanhado de dicionários das línguas em que redijo – português, francês e inglês – em suporte próximo da secretária; esta mania em nada impede a publicação de ‘posts’ com erros de morfologia, sintaxe ou outros; recentemente, publiquei um texto em que escrevi “manifesta capacidade”, em vez de “manifesta incapacidade”. Fui lá, passado 2 dias, e emendei. Quem leu entretanto, pensou e comentou para si próprio: – Este gajo escreve mal e sem sentido! – E tenho de lhes dar razão.
Tudo isto, penso, é aceitável na vida de um pobre bloguer. O que descuidadamente jamais imaginei é que, sentado, a redigir um ‘post’ no PC, o dobrar-me sobre o meu lado esquerdo para recolher os dois dicionários da ‘Academia das Ciências de Lisboa’ me causasse um problema discal.
A dor é o sintoma que melhor negócio proporciona aos médicos – pense-se no que sugam os estomatologistas com as dores de dentes ou os urologistas a extrair pedras dos rins – e o factor muito inibidor da função criativa de quem a sofre, por pouco imaginativo que seja.
Acabei por recuperar, justamente nas vésperas do 25 de Abril, depois de cumprir uns dias de penitência com o impedimento de escrever. Mas, precisamente no dia 25 de Abril, e porque ficaram alguns resíduos da lesão discal na perna esquerda, ao regressar a casa da festa, pisei pedras soltas de um passeio de calçada à portuguesa (foi vingança, porque a odeio e acho incómoda) e fiz uma rotura de ligamentos que me impediram de andar, sair de casa… e então de escrever nem falo.
O meu 25 de Abril, este ano, transformou-se em mistura de satisfações e infelicidades. O Largo do Carmo e a Avenida da Liberdade foram locais de alegria.
No Chiado, a minha ex-companheira e autora no ‘Aventar’ Carla Romualdo, jovem portuense por quem tenho uma respeitosa amizade e uma admiração pelo prodigioso talento (lamento que nesta terra inundada de ‘escritores de aviário’ não publique um livro que a destacaria certamente dos atrevidos e pobres escribas); a Carla, dizia eu, ia de carro, viu-me, chamou-me e, entretanto, eu perdi-me, na multidão que por ali andava, sem a ouvir. Que tristeza não ter tido o prazer de a rever!
Perto de casa, o passeio derruba-me e cheguei a casa a coxear. Ainda tive disposição para responder a um ‘email’ da Carla, por se tratar dela, mas fiquei arrumado até que as bolsas de gelo e os pensos ‘Trans Act’ me restituíssem ao blogue.   
Aqui estou até ao próximo ‘post’ - ou lesão? 

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