O desenlace do filme, na sorte
como na desgraça, é sempre ditado por essa sórdida personagem, de mão
invisível, abstracta e de incontrolável ‘suspense’: Mercados! É também um
argumento de mitigado e ostensivamente negado mistério, por se desconhecer se actuam
para o bem ou para o mal – “logo se verá!” proclamam os Catrogas, os Bentos, os
Gaspares e todos os seus pares que impingem certezas de brutal incerteza.
Neste
filme do BdP, com a figura destacada de cartaz de ‘O Costa do Amarelo’, o
precioso metal da cor da gema de ovo depreciou-se 31% em 2013. Consequências: o
activo das mesmas 382,5 toneladas de ouro, no final de 2013, teve uma
desvalorização em valor absoluto de 4.795 milhões de euros; o
resultado das contas do Banco de Portugal em 2013 fixou-se em 253 milhões, o
que compara - assim diria Gaspar – com 449 milhões em 2012; e prosseguindo
ainda em “dialecto gaspariano”, a verba distribuída ao Estado Português
registou uma correcção técnica de – 157 milhões de euros nos números finais de
2013 em que foram libertados dividendos de 202 milhões, abaixo, portanto, dos
359 milhões atribuídos em 2012.
‘O Costa do Amarelo’, Carlos de
nome próprio, e companheiros validaram o ‘Relatório
e Contas do Banco subsidiário do BCE’, outrora Central de verdade, com o
seguinte registo na página 132:
“ 1.1.2.
Ouro e activos de gestão (líq.)
• Ouro
A reserva de Ouro do Banco de Portugal não apresenta,
face a 2012, qualquer variação em termos de quantidade (que se mantém em 382,5
toneladas). Desta forma, o acentuado decréscimo do valor desta reserva, face a Dezembro
de 2012 (-4795 milhões de euros), deve-se unicamente à evolução negativa da sua
cotação e é compensado por uma variação, de igual montante, na rubrica
“Diferenças de reavaliação”.
O afirmar que é compensado por
uma variação, de igual montante, na rubrica ‘Diferenças de reavaliação’, é forma
hábil de suavizar a mensagem de que houve um prejuízo de – 4795 milhões de
euros, por efeito da depreciação do ouro.
Registar em conta própria, “Diferenças
de reavaliação” esse prejuízo não o compensa. Segundo o velho ‘método
das partidas dobradas’, o BdP foi forçado a inscrever a perda, por contrapartida
de movimento contabilístico, tratando-se de uma questão de forma de
escrituração, sem regenerar a substância do valor perdido. Habilidades de
linguagem tecnocrática, deploráveis numa instituição cujos quadros e reformados
se livraram do esbulho dirigido a funcionários públicos e equiparados de parte
do SEE, reformados e pensionistas. Repugnante!
Sem comentários:
Enviar um comentário