Do drama do assassínio de duas
mulheres e os ferimentos graves da ex-mulher e filha, alegadamente da autoria
de um tal Manuel Baltazar, podem formular-se juízos de diversas espécies: elevados riscos de insegurança das
populações no Portugal interior, desertificado e despovoado; ineficácia das
forças de segurança, GNR e PJ, mesmo em grandes contingentes, para deter o
suspeito Baltazar em terrenos que caçadores dominam; ignorância por essas
mesmas forças das características do território que alegadamente vigiam.
Ao sucedido, podemos adicionar mais
uma parcela da justiça à portuguesa, com o tribunal e serviços prisionais incapazes
de estudar e considerar o perfil do detido, optando pela libertação deste,
munido de uma pulseira electrónica destrutível que não é, de forma alguma, um
instrumento de controlo infalível de um presidiário, tendencialmente assassino,
posto à solta.
O tenente-coronel Machado da GNR,
segundo o ‘Público’, afirmou:
Eu diria precisamente o inverso:
“Só quem não conhece a GNR é que pode criticar o terreno…”
E pergunto: não é, de facto,
dever das unidades da GNR conhecerem milímetro a milímetro os territórios sob a
sua vigilância? Tão bem como o Baltazar, por exemplo? Seria útil que fizessem
um curso aos guardas no Instituto
Geográfico do Exército, com selectiva incidência na cartografia das regiões
a que estão afectos. Também não se perdia nada se o curso fosse extensivo à
PJ.
O homem já visitou um caçador
amigo, conversou e comprou pão ao padeiro itinerante, mas a GNR, que há uma
semana teve uma centena de homens, alguns a cavalo e outros auxiliados por cães
de busca, não o encontra. Baltazar escapou-se-lhes sempre e já lá vão 19 dias.
Quem tem uma casa isolada numa
aldeia da província – é o meu caso – pode sentir-se seguro com a protecção da
GNR? E a região ainda é mais despovoada do que as terras de São João da
Pesqueira, Sernancelhe e Penedono e outras localidades que as rodeiam, as quais
conheço, por permanência em férias e por circuitos diante de belas casas de
xisto, algumas arruinadas.
Um dos argumentos que anima as
expectativas de sucesso da captura do Baltazar, segundo a GNR, é “a aproximação
da época dos incêndios”. Há vidas perdidas e um fugitivo inatingível, mas, como
se trata de uma força de elite e de enorme sentido estratégico, a solução está
na erupção de fogos em matas e florestas. Que classificação merece esta estratégia?
Já foram 100 e agora ficam
reduzidos a 50 os efectivos da GNR. A PJ também diminuiu o número de agentes,
segundo foi divulgado. Todavia, sejam quais forem os números de elementos
iniciais e residuais, os intérpretes de topo da história já conseguiram dar o
mote para rebaptizar as terras em causa: concelho de São João da Caçadeira e
freguesia de Valongo dos Aselhas.
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