Pode jogar-se com as palavras.
Todavia, escamotear realidades é impossível. O tecido empresarial português
está, de facto, em dissolução – os números do desemprego divulgados, INE e
Eurostat, estão muito abaixo da verdade. O critério de contagem, segundo
explicitado pelo próprio Eurostat, baseia-se nos princípios seguintes:
- · Serem cidadãos dos 15 aos 74 anos e encontrarem-se nas seguintes condições:
®
estar sem trabalho na semana de referência (da estatística, acrescento);
®
estar disponível para trabalhar dentro das
próximas duas semanas;
® ter procurado activamente trabalhado nas últimas
quatro semanas ou terem encontrado trabalho para iniciar a actividade nos
próximos 3 meses.
É do conhecimento geral que existem
muitos, mesmo muitos mais desempregados em Portugal, sem corresponder a nenhuma
destas condições, por falta de escrutínios através das estatísticas – aqueles
que deixaram de receber o subsídio de desemprego e não se manifestam activos na
procura de emprego junto dos ‘Centros de Desemprego’, a adicionar aos
contingentes que se sentem forçados a emigrar por falta de oportunidades em
Portugal, somam milhares aos números ‘oficiais’ do desemprego.
Por outro lado, temos o ancestral
ardil à volta da exclusão de ‘estagiários’, mesmo trabalhando durante 6 meses, no
respectivo ano já não são classificados como desempregados; o mesmo pode aplicar-se
a quem frequenta certos cursos de formação organizados pelo IEFP.
O cenário estatístico equivale a
um diagnóstico médico errado. O que, de facto, conta é que o
número de insolvências não pára de aumentar e o subsequente incremento dos
desempregados como desfecho natural.
O
ministro Pires, em estilo propagandístico, defende que a retoma está aí. É
falso e a quebra da economia é, de resto, um fenómeno mais vasto, da Zona Euro,
confirmado
pela evolução de – 2,9% do PIB no 1.º T de 2014. O BdP também reviu em
baixa as previsões do PIB português para 2014.
A Europa, que privilegiou a
salvação dos bancos ao preferir a imposição de políticas de austeridade aos
países mais frágeis, se não recorrer a soluções de reestruturação das dívidas e
ao relançamento económico está condenada ao insucesso da política da ‘moeda
única’, sem a uniformização da política fiscal e políticas de crescimento e
coesão social que o BCE, sem autorização e comparticipação da Alemanha,
despreza. A tendência deflacionária talvez os obrigue a medidas de fundo. Resta
saber quais. Aguardemos, sofrendo.
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