Cavaco, nas funções de PR,
desempenha um papel duplo em relação às finanças do País; em primeiro lugar,
como todos os antecessores presidentes o foram, é responsável supremo pela
promulgação de toda a legislação, incluindo a lei do Orçamento Geral do Estado;
complementarmente, e por se tratar de ‘Professor de Finanças Públicas’, em
relação aos anteriores PR’s, tem o dever acrescido de filtrar medidas políticas
governamentais, traduzidas em leis, susceptíveis de criar obstáculos ao
cumprimento de metas utópicas em matéria de política orçamental, ameaçar a
nossa soberania e as condições de vida de segmento numeroso da população
portuguesa.
No meio deste jogo, o recurso
permanente a medidas legislativas inconstitucionais, em que o governo de Coelho
e Portas, aleivoso, é recorrente. Insiste, de forma panfletária, em enviar
para a opinião pública a imagem do Tribunal Constitucional como um grupo de
juízes irresponsáveis e mesmo hediondos.
O Prof. Cavaco tem alinhado, na
maioria dos casos, pelo referido comportamento, sob a capa da hipocrisia que
lhe é peculiar. A forma como se submeteu à vontade do governo de remeter para fiscalização preventiva da legislação de cortes de salários e reformas, em
primeira mão anunciada por Coelho, é prova concludente de que o PR infringe as regras
de independência e neutralidade exigidas pelo cargo, revelando uma censurável conivência
com o governo.
A fim de poder pagar a dívida
pública (132,9%
do PIB no 1.º T de 2014) nas condições de prazo e juros em vigor, Portugal carecia
de um saldo orçamental primário médio (exclui juros) de 5,9% / ano, durante 10
anos consecutivos. No livro “A Surplus of Ambition: Can Europe Rely on
Large Primary Surpluses to Solve its Debt Problem?” ‘(Um excesso de Ambição: Pode a Europa
Confiar em Elevados Superavits Primários para Resolver o seu Problema do Débito?)
‘, no qual, através de estudo de séries longas sobre vários países, os autores
concluem:
O que pensará, de facto, o Prof. Cavaco
Silva desta conclusão fundamentada na realidade? Já nem falo na amanuense
Albuquerque, que parece estar de partida para Bruxelas; de resto, é justamente
isso, uma amanuense, que cumpre o que os directórios da UE28 lhe ordenam e não tem direito a opinião própria.
Por último, refira-se que Eichengreen,
professor na Universidade da Califórnia, em Berkeley, considera o seguinte:
“O Banco Central Europeu terá de ajudar com
uma taxa de inflação mais alta e a Alemanha terá de ajudar com um maior apoio
orçamental ao crescimento, caso contrário a dívida terá de ser reestruturada.”
Ideias que lançam um desafio, de resposta
difícil, a umas quantas figuras ilustres da política e da economia que fazem
passear pela imprensa exaltados textos e entrevistas contra quem defende o
inevitável, a reestruturação.
(Adenda: O italiano Ugo Panizza é co-autor do livro)
Já fez as contas ao segundo da dívida do reinado Sócrates? Pois eu fiz! Dá 90 mil milhões, cerca de 45% do PIB, dando uma média de 460 euros por segundo! E o Cavaco deixou andar isso tudo!
ResponderEliminarNem é necessário fazer cálculos ao segundo, mas Cavaco também não sai bem na fotografia dessa época. É o problema do "bloco central". Sócrates passou a dívida de 67,7% em 2005 para 94% em 2010. O actual governo já a elevou para 132,9% do PIB em 3 anos e 3 meses. Faça as contas! O que está em causa, segundo o citado livro, é a capacidade de gerar saldos primários da ordem 5,9%, em 10 anos consecutivos, para regularizar a dívida sem reestruturação. E nesta expectativa, o Sr. João Ferreira lembrou bem: as responsabilidades de Cavaco estendem-se por muito mais tempo.
ResponderEliminarAs minhas contas na situação do 3º. T de 2014 produzem o resultado de 631,12 euros por segundo.
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