domingo, 20 de julho de 2014

Yé-Yé, revivalismo dos ‘sixties’

Para início de conversa, comecemos por Françoise Hardy. Ou melhor, pela canção ‘Tous les garçons et les filles”:




Uma mensagem romântica, de quem contempla a felicidade alheia, remetendo-se para o sujectivismo em contra a corrente com outros jovens afortunados, questionando ‘mes jours comme mes nuits / sont en tous points pareils /sans joies et pleins d'ennuis / oh! quand donc pour moi brillera le soleil? (os meus dias como as minhas noites / são em todos os pormenores parecidos / sem alegrias e cheias de mágoas / oh! Quando portanto brilhará o sol para mim?).
No saudoso ‘Teatro Monumental’ no Saldanha (Lisboa), destruído criminosamente para dar lugar a um cubo de vidro bronze e triste, que hoje me fere a alma e a memória, assisti ao ‘show’ da Françoise Hardy. No final da canção, eu e uma jovem Ausenda (“Zendinha”) beijámo-nos loucamente. Jamais nos reencontrámos. Os tempos e hábitos eram outros. O controlo dos pais, em especial sobre as raparigas, era permanente e duro. A repressão, uma carcaterística do regime, contaminava as regras da conduta familiar e da educação dos jovens; sobretudo, das jovens.
Nos tempos do ‘Yé-Yé’, no Monumental, assisti também a outros ‘shows’ de cantores franceses. Sylvie Vartan et Johnny Hallyday, primeiro casados e depois descasados. Também me entusiasmei ao som do ‘rock’n roll’ português dos ‘Sheiks’ (Paulo Carvalho, Chaby, Carlos Mendes, Tordo e Edmundo Silva), de Vítor Gomes e os ‘Gatos Negros’, assim como de outros de que me esqueci ou vagamente recordo (o duo ‘Os Conchas’).
Na desaparecida sala, também assisti à exibição de cantores clássicos. Aznavour e Bécaud, por exemplo. Era leitor assíduo da revista ‘Salut les Copains’ e a música francesa tinha, de facto, uma projecção internacional assinalável – as músicas de Serge Gainsbourg (compositor), France Galles, Claude François, Charles Anthony e outros estavam no auge.
Entretanto, irromperam os ‘Beatles’, os ‘Rolling Stones’ e outras vedetas anglo-saxónicas.  Os franceses foram vencidos e John Lennon com Paul McCartney tornaram-se meus ídolos. Porém, jamais esquecerei os intérpretes franceses, Edith Piaf à cabeça. “Non, je ne regrette rien”, canto para mim próprio.
De facto, como diz a canção de Françoise Hardy « j'aurai le coeur heureux sans peur du lendemain ». Infelizmente, os jovens de hoje não podem dizer o mesmo ; nem do tempo que passa como dos tempos do porvir. É o resultado das perspectivas de vida que os poderes instalados lhes reservaram.

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