Tenho sido contido em matéria de
política, no que concerne à disputa e ao desfecho eleitoral. Na qualidade de
cidadão com direito a voto e à participação política, bato-me naturalmente por
ideais em defesa de uma sociedade socialmente justa, onde prevaleça o humanismo
– “Cada vez mais uma utopia”, dizem os críticos. “Cada vez mais um dever
colectivo”, replico.
A coligação PàF venceu as
eleições, com a despromoção para uma maioria relativa. Terá algum mérito próprio, mas houve algo mais a ajudar a vitória da
direita. Desde logo, a infame falta de imparcialidade da comunicação social,
com destaque para as TV’s. Depois, o género de povo que somos. Mesmo no
litoral, do Minho ao Algarve, devoram-se milhares de ‘Correios da Manhã’; uma
espécie de ‘Pravda’ da direita populista portuguesa. Para terminar, a despeito
do bom desempenho do BE e dos estereótipos do PCP, a luta eleitoral foi vencida
tranquilamente pela direita, com um PS inconsistente nos formatos e conteúdos
comunicacionais da campanha.
António Costa praticamente foi um
homem só a percorrer ruas e cidades do País. Coelho e Portas, com mais
eficácia, fecharam-se em salões e realizaram os tais 1.500 almoços ou jantares,
com um regime de gratuidade que incluía o petisco regado e os autocarros
lotados.
O contexto mundial complexo, dominado pelos
mercados e os extremistas da teoria da ‘mão-invisível’ de Adam Smith,
conduziram o Ocidente a uma crise profunda. Os efeitos, em especial no sistema
financeiro, prevalecem. Não é, por mero acaso, que BPP, BPN e BES se evaporaram
conjuntamente com os milhares de milhões de euros dos contribuintes portugueses
– acrescente-se que a banca portuguesa - BPI, Montepio Geral, Millennium BCP, Novo Banco e
mesmo CGD - vive momentos de depressões financeiras e causadoras de preocupações
– embora haja publicidade defensiva, em sentido inverso.
Portugal, com uma economia que o
poder classifica de forte mas é frágil, deve ser tratado com pinças sob o ponto
de vista político (tenha-se em atenção a subjugação do Syriza e dos gregos aos directórios da UE). Recomendar-se-ia que fosse evitado revelar com estrondo as fracturas
internas para o exterior. Porém, nada disto está a suceder; mas, precisamente o
inverso.
O decadente Cavaco Silva, em
atentado contra a própria CRP (Art.º 187.º, n.º 1), privilegiou o líder do seu
partido, Passos Coelho, incentivando-o a tentar encontrar uma solução de
governo pós-eleições. Apenas hoje falou com António Costa, que a cada dia de
progresso de conversações com o PCP e o BE, mais isolado fica no partido (a
derrota, depois da confrontação com Seguro por este ter obtido escassa
superioridade eleitoral nas ‘Europeias’ já constituía pesado fardo). Ontem, o
diletante Sérgio Sousa Pinto, a seguir o sindicalista banqueiro Carlos Silva e
o silêncio comprometedor de Assis e outros estão a criar as condições golpistas
que, segundo vaticino, acabarão por derrubar Costa.
Os comentadores também não o
poupam, minimizando, nas prestações públicas as críticas à
coligação PSD-CDS que só hoje, e não ontem, cumpriu a entrega do prometido
documento de base para as conversações com o PS.
O País está, de facto, a
atravessar um momento muito delicado, embora haja quem mitigue e disfarce a
complexidade da situação política portuguesa. Melhor ou pior, uma solução há-de
chegar, creio. Vamos ver como a imprensa e a opinião pública reagirá a uma
eventual saída de esquerda (PS, BE, PCP, coligados ou governo do primeiro sob
acordo parlamentar com os restantes). Veremos se uns quarentões que por aí escrevem,
que tinham entre 0 e 5 anos em 1974/75, agitam o fantasma do PREC e se a
esquerda portuguesa terá de ficar eternamente prisioneira de acontecimentos
políticos de há mais de 40 anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário