A
presidente da AR, Assunção Esteves, bem se esforçou no apelo ao silêncio do
público da Galeria, quando este cantou 'Grândola, Vila Morena', de Zeca Afonso.
Passos Coelho tinha iniciado o discurso, mas foi ele a silenciar-se.
Hipocritamente ou não, teve o bom senso de elogiar a forma de interrupção.
Passos
Coelho, dá a ideia, perdeu o fulgor de há algum tempo. Começa a entender o
crescente descontentamento popular com a dureza, sem precedentes em tempos
democráticos, das medidas do seu governo: desemprego
altíssimo, em especial entre os jovens (40%); queda dos salários desde 2011
(-16,1% no último trimestre de 2012), redução de subsídios e penalização
agravada sobre os restantes rendimentos de reformados e pensionistas (alvos do
agravamento de impostos especiais e elevados – CES), economia em queda, banca
beneficiária de ajudas estatais mas incapaz de financiar a economia.
Enfim,
o rol dos nossos males é tão extenso que as situações referidas são apenas
parte, pequena parte, a que se pode juntar muito mais e uma dívida externa brutal dos
sectores público e privado.
Na
Europa, da Itália à França, da Espanha à Holanda, de Portugal à Irlanda – citar
a Grécia já se tornou em ‘soundbyte’ desrespeitoso – começa a compreender-se
que as políticas de austeridade fazem mergulhar os povos do Velho Continente nas
piores condições socioeconómicas do pós-guerra. A Europa, mesmo à custa da
cegueira neoliberal de dizimar salários e condições contratuais de trabalho historicamenge equilibradas, começou a meter-se num túnel sem luz, nem saída –
a menos que os políticos europeus, Alemanha à cabeça, tenham a lucidez de
retornar a políticas sociais justas e avançadas. Esta súmula da Presseurop
reflecte como a maré do descontentamento alarga os domínios da inundação, ou
seja, do sufoco de milhões de europeus.
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