quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dinheiros e endinheirados do ópio do povo

futebol e pobrezaÓpio do povo, o futebol é vício de massas desde sempre grato e estimulado por políticos. Mas não só. Com o correr dos tempos, a indústria do ‘pontapé na bola’ foi-se erigindo com explosivo desenvolvimento.  Terreno fértil de negócios de milhões e milhões captou, naturalmente, os interesses de outros parceiros atraídos por elevados rendimentos: empresários, líderes e funcionários de organismos de futebol nacionais e internacionais, e ainda os dirigentes remunerados dos clubes. Os mecenas cederam o lugar aos sugadores.
O vício é patológico e de raízes profunda e transversalmente populares. Um desempregado e um licenciado bem sucedido profissionalmente partilham, no mesmo café, de idênticos sofrimentos, ansiedades, euforias e desilusões suscitados pelo jogo. Um iletrado e um engenheiro, lado a lado, esbracejam, agitam-se, gritam “goooooolo!” ou chamam, a plenos pulmões, “filho da puta” ao árbitro. Fazem-no como exercício de impecável sintonia, conquanto jamais se tenham conhecido antes; muito menos ensaiado a cena.
Destas emoções convulsivas do ‘Zé povinho’, os governos, sobretudo em tempos de crise, retiram dividendos sociais.
Abjecta se ponderada seriamente, normal se avaliada pelos desígnios, a medida do Governo Madeira de distribuição de 10 milhões de euros pelos clubes da região insere-se, pois, neste outro jogo da política, à roda do jogo da bola, que é garantir o ópio à malta.
Nós, aqui no Continente, não temos motivo para nos sentirmos de casta diferente. Para evitar o desgaste de examinar políticos, basta ver as contas encerradas em Junho de 2011 das SAD’s do Benfica e do F.C.Porto. Concluiremos que, nos “encarnados”, há dois dirigentes que auferiram 614.515 euros anuais, ao passo que, nos “azuis-e-brancos”, a totalidade paga a Administradores no mesmo período atingiu 3.080.000 euros.
Como diria o malogrado Perestrelo: “É disto que o povo gosta!”.

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