domingo, 2 de setembro de 2012

As causas da azia de Portas e a tensão na coligação

Podemos começar pelo programa do governo, página 98:
“O Grupo da RTP deverá ser reestruturado de forma a obter uma forte contenção de custos já em 2012 criando, assim, condições tanto para a redução significativa do esforço financeiro dos contribuintes quanto para o processo de privatização. Este incluirá a privatização de um dos canais públicos a ser concretizada oportunamente e em modelo a definir face às condições do mercado. O outro canal, assim como acervo de memória, a RTP Internacional e a RTP África serão essencialmente orientados para assegurar o serviço público.”
No final das negociações com Passos, Portas aceitou a solução da privatização de um canal, mantendo, nas mãos do Estado, o outro para o serviço público – de Rádio e Televisão, sublinhe-se.
Ao saber do modelo divulgado pelo conselheiro Borges (concessão do serviço público a privados, eventualmente os angolanos da Newshold, mediante a transferência do Estado para estes de 140 milhões de euros / ano), e quase imediata ratificação de Relvas às ideias do conselheiro, Portas ficou de estômago virado, atacado por insuportável azia. Para além do absurdo da proposta, o programa do governo não estava a ser respeitado, pensou certamente.
Deslocado no Maputo, delegou no jovem João Almeida a tarefa de imediata demarcação do CDS das declarações de Borges, surgindo, de seguida, Mota Soares a refutar opiniões de consultores.
Paulo Portas, de quem divirjo ideologicamente, destaca-se como o político mais inteligente deste governo. Quando pensa a preceito no interesse nacional, desenha a acção política correcta. Sabe que, dos poucos mais de 15 milhões de portugueses no mundo, um terço é constituído por emigrantes. Tem presente que mais de 250 milhões de seres humanos falam português, no planeta.
A RTP (Rádio e Televisão Portuguesa), até aqui, tem falhas graves de qualidade no serviço público prestado. Contudo, e a despeito da necessidade de inevitáveis melhorias, a RTP é para muitos dos nossos emigrantes o meio de manutenção da relação diária com o País de origem.
Quem andar por esse mundo sabe, pois, o que a RTP, de facto, representa para as comunidades portuguesas, cujas remessas monetárias crescentes são saudadas pelo tecnocrata Gaspar e outros, sob a incapacidade de imaginar outros nexos que não sejam as contas do défice.
Paulo Portas, que não é tecnocrata e tem outra visão dos ganhos que não se confinam a balanços de sociedades empresariais,  manterá a RTP no Estado, a prestar serviço público. Se, por arrasto, afastar Relvas do governo, conseguirá o pleno. A azia e a tensão dissipar-se-ão totalmente.






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