Os episódios à volta do aumento da TSU dos trabalhadores, de 11 para 18%, demonstram quanto o matrimónio político, da actual coligação, está a destruir, e de que maneira!, a vida de milhares portugueses.
Coelho e Gaspar foram os artilheiros activos no disparo do funesto míssil.
Mas, a arte de mutilar do governo é muito complexa. Nos altos comandos há quem, no bombardeamento aos rendimentos do trabalho, tenha a hipocrisia de se refugiar no silêncio, com ar desentendido. Enquanto outros nos castigam e vão ridiculamente cantar à Nini.
Portas recorreu ao expediente em que é hábil. Através da criadagem que o serve no partido – sim, com raras excepções, são subservientes serviçais – mandou passar a mensagem na comunicação social de que desconhecia a medida e não a aprovaria.
Ontem, lá incumbiu o Nuno Melo de contrariar o que por aí se dizia, e hoje o próprio, Portas, confessou:
No estilo de vedetismo que lhe é próprio, usando a primeira pessoa em abundante narcisismo - ele é o CDS-PP e o CDS-PP é ele - Portas declarou-se co-autor do golpe. Se, de facto, as negociações com a ‘troika’ findaram em harmonia, Paulo Portas, no meu entender, ao não bloquear, ratificou e subscreveu a sinistra decisão. Naturalmente.
Com a precaução de estarmos a tratar de gente de duvidosa credibilidade, li a ‘Declaração da Troika’ da 5.ª revisão do programa, traduzida aqui; pode interpretar-se haver, de facto, uma referência ardilosa e ambígua à possibilidade de agravar a TSU dos trabalhadores. Mas não é explícita. Leia-se a parte final do parágrafo iniciado por:
Mas atingir as novas metas de défice exigirá esforços adicionais de consolidação.
Portas um dia destes, ladeado por Coelho, ainda virá dizer ao povo que, afinal, já nada se pode fazer para eliminar a medida. Que o faça!
Provavelmente, o par também daqui algum tempo anunciará a troca da coligação por um governo sustentado em acordo de incidência parlamentar ou coisa do género. Uma desunião de facto, digamos.
A coligação está em estado degenerativo. O desfecho de separação é de alta probabilidade.
Aguardemos o Conselho de Estado e a decisão do Presidente Cavaco. Apesar do sintomático silêncio – Ó Manuela, fala tu! – algo será dito em Belém. Nem que seja apenas: – Boa tarde! –.
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