A palavra 'mercado' ou o seu plural 'mercados' entraram na linguagem quotidiana. Quase sempre em explicações imperceptíveis e livres de personificação, para referir flutuações financeiras: as taxas de juro aplicadas às dívidas soberanas, as compras dessas dívidas, as cotações de bolsa e outros mega-episódios do mundo comandado por especuladores. São sempre os mercados a ditar guerras, movidos por gente sem rosto.
No caso da privatização da RTP, também o primeiro-ministro cede aos mercados e adia a privatização da estação de TV pública. Não porque entenda que o Estado deva manter em seu poder um meio de comunicação isento e suficientemente plural, quer em termos programáticos, quer em termos de divulgação externa da vida do País e a difusão da cultura e da língua portuguesas, em especial junto das comunidades de emigrantes e de países da CPLP. Tudo isto, acentue-se, é serviço de interesse nacional e não negócio.
A motivação do adiamento 'sine die' da privatização da RTP é, pois, ditada fundamental e exclusivamente pela fuga à guerra que se despoletaria no mercado televisivo, hoje em recessão, entre o Dr. Balsemão (Impresa) e Nuno Vasconcelos (Ongoing); da qual a TVI certamente também não se excluiria.
Afinal, as forças livres do mercado, essa grande abstracção neoliberal, também podem ser artificialmente mitigadas ou mesmo eliminadas. Basta que estejam em causa os interesses de poderosos e o Estado neoliberal vale-lhes de imediato.
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