Das poucas vezes que tenho um átomo de paciência para ouvir ou ler o que Paulo Portas diz, de forma intuitiva e à laia de metáfora, vem-me à memória a seguinte estrofe de 'Serafim Saudade' de Herman José:
Serafim, Serafim Saudade
Aqui estou e, na verdade, sei que sou o que sonhei
Serafim, Serafim, sou eu
Trago comigo o que é meu
Este nome que criei
Aqui estou e, na verdade, sei que sou o que sonhei
Serafim, Serafim, sou eu
Trago comigo o que é meu
Este nome que criei
Creio que, se substituirmos Serafim por Paulo ou Portas, os versos retratam com cristalina pureza a personalidade do supremo líder dos CDS-PP e actual Ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros. De facto, Portas pode regozijar-se de 'saber que é o que sonhou, trazer consigo o que é dele, aquele nome que criou'. E o nome é… demagogo!
Agora, perante o arremesso de descontentamento do seu grupo parlamentar sobre a política fiscal do governo, Portas desculpou-se com os compromissos fiscais do memorando da 'troika'.
Portas não foi preciso nas afirmações. Usou a demagogia, em que é especialista imbatível. Arranjou justificação para o imposto extraordinário, a maior tributação dos rendimentos dos últimos dois escalões do IRS e o agravamento do IRC para empresas de lucros mais elevados. Qualquer destas medidas não consta do memorando da 'troika'.
Por sua vez, referiu-se ao aumento do IVA sobre a electricidade que o governo deliberou mandar aplicar a partir de 1 de Outubro deste ano, embora, no ponto 1.24, alínea iv), na página 5 do 'memorando da troika', tivesse estabelecido que esse agravamento seria para aplicar em 2012. Houve, pois, uma antecipação de 3 meses, por opção do governo que Portas integra.
Por último, e no que toca a queixas quanto à falta de corte na despesa pública, assegurou que o governo se prepara para fazer um corte sem precedentes na "despesa de funcionamento do Estado". Omitiu que alguns dos cortes de despesa já foram anunciados. Por exemplo, na área da saúde e na redução de pensões de reforma acima de 1.500 euros mensais; o importante não é apenas que estas medidas excedam ou sejam alinhadas pelos limites impostos pela troika. Relevante, sim, é dizer a verdade: reduzir pensões não é cortar nas despesas de funcionamento do Estado.
Abriram-se, pois, as 'portas da demagogia'; e os deputados do CDS-PP, como gente servil e obediente que é, não tugiram, nem mugiram. O CDS-PP é Portas e os restantes são meninos do coro.
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