Nos debates parlamentares, o governo é redundante no argumento da indisponibilidade de fundos para investimento público. Aliás, vai mais longe, sustenta-se ideologicamente na tese de que não cumpre ao Estado intervir no investimento produtivo.
A escassez na tesouraria pública não afecta, porém, as forças de segurança, PSP e GNR em especial. Assistimos ontem, na TV, ao ar de felicidade do alvo ministro Miguel Macedo, a anunciar que o OGE de 2013 contempla o reforço de um investimento de 10,8% nas forças de segurança – a PSP contará com 797 M €, ao passo que a GNR 938 M €.
O ‘estado policial’, mais a mais justificado pelo descontentamento nas duas corporações, é investimento prioritário. Após certa anestesia que, além de outros efeitos, a falta de dinheiro sempre provoca, e mediante a promessa do alvo Macedo, a polícia aí está em grande nas ruas, ao estilo do tal ‘estado policial’. Há que controlar os infames grevistas; esse perigoso corpo de criminosos que se atrevem a protestar contra a ameaça do desemprego, os baixos salários e a deterioração das condições de vida.
Inspirado talvez nos cineastas Marcelo e Moita de Deus, o ministro Macedo, ao arrepio de explicações à CNPD, mandou munir os polícias de vídeos para filmar os movimentos dos grevistas.
Um dia destes, do meio da ‘bófia’, sai de lá um Spielberg a realizar um filme dedicado ao E.T. Gaspar que, no 3.º trimestre e uma vez mais, viu o PIB cair 3,4% e o desemprego subir para 15,8%.
Tenho um pressentimento de que o lema ‘o governo é amigo dos polícias’ é susceptível de se transformar em ‘o governo é amigo dos polícias e dos militares’.
Convém lembrar que este tipo de lemas constituem também uma divisa das ‘democracias iliberais’. Que perguntem a Putin ou ao Chávez – ao José Eduardo não é aconselhável, porque as relações azedaram.
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