O jornalismo de José Miguel
Tavares (JMT), se assim pode considerar-se, é feito de intrigazinhas, de
minudências e outras insignificâncias, próprias de quem sofre de afectação de ordem irracional e é incapaz de construir juízos simples quanto mais espraiar-se em
horizontes rasgados; são características das sombras sob as quais se governa –
estou a colocar-me propositadamente ao nível da sua escrita, para que o JMT
tenha consciência da sua própria mesquinhez.
Uma das batidas técnicas do ora
também comediante televisivo, que escrevinha, é a escolha de um título para captar
atenções, o que é recorrente e tradicional no jornalismo. Todavia, o título tem
de respeitar o conteúdo do texto, e “A caça ao
Tordo” está incorrecto, uma vez que, no emaranhado “neo-realista” do texto,
os alvos da caçada são dois ‘Tordos’; o pai Fernando, cantor, e o filho João,
escritor.
Ao espírito mexeriqueiro da
história e de ofensa aos visados, JMT junta-lhe lamentável hipocrisia – muito repugnante
- ao afirmar:
“Eu simpatizo bastante com Fernando Tordo e com o seu filho João.”
É próprio de quem não tem a menor
vergonha, quanto mais algum sentimento ético da vida. A propósito dos 200 mil
euros de contratos de ajuste directo, como confesso simpatizante do cantor,
poderia ao menos remeter para estas
explicações de Fernando Tordo e precisar que a verba diz respeito a três
anos - três! - de contratos.
JMT resolveu, pois, envergar a
indumentária de caçador, muniu-se de uma pressão de ar e mascarou-se de atirador
furtivo; a jornada foi expressamente dedicada aos ‘Tordos’, nada de outra
passarada, nem de animais rasteiros e de tocas, como o ‘Coelho’.
Da miopia, associada à falta de
prática ou de perfil de caçador, disparou sem nexo. Para cúmulo, apontou a arma
apenas àqueles dois ‘Tordos’, não admitindo que o mais velho tenha manifestado
revolta contra a nefasta situação do País em que vivemos, às ordens de um
execrável governo, nem que o mais novo, com emoção própria de filho, tivesse
expressado solidariedade afectiva ao Pai – ser e não saber ser pai ou filho é um
desvio mental grave.
A
emigração de Tordo, infelizmente, é ínfima parte de um processo do
descalabro demográfico do País, onde ‘Encontrar emprego depois dos 40 é milagre’, como anunciava o ‘Expresso’ no fim-de-semana. E estas são as grandes questões que merecem a atenção dos
grandes jornalistas.
“Se o actual governo tem culpa de imensa coisa…”, como diz o JMT,
então deixe de contar histórias ‘gota-a-gota’, em especial ao focar-se na vida
por quem tem uma estranha simpatia antipática. “A imensa
culpa do governo” contém “imenso material” para um jornalista a sério dissecar,
de forma objectiva e independente.
Muitos parabéns pela exemplar forma como expressou a sua opinião com a qual concordo.
ResponderEliminarA minha gratidão.
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