O
Infarmed não soluciona a falta no mercado de medicamentos essenciais para
doentes crónicos, mas faz estudos. Também estes se revelariam úteis se não se
ficassem apenas pelo óbvio, sem cuidar de investigar e divulgar causas científicas.
Agora, segundo
o ‘Público’, comparativamente apenas à Dinamarca, Itália e Noruega, esta última nem
é membro da União Europeia, descobriu que Portugal os supera no consumo de
medicamentos para a ansiedade e a insónia. Trata-se de um caso “importante de
saúde pública”, assim classifica a investigadora do Infarmed, Cláudia Furtado.
E é, confirmo eu.
Álvaro Carvalho, um psiquiatra
muito mediático através do caso ‘Capa Pia’ e agora coordenador do Programa
Nacional para a Saúde Mental, também afina pelo mesmo diapasão: confirma o
incremento do consumo de ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, sem fazer
igualmente a mínima referência às causas que o determinam.
Quem não esteve com meias
medidas, a reagir a estudos e afirmações sem profundidade sobre as causas de
patologias e dependência crónica de tranquilizantes, foi a presidente da
Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Luísa Figueira. Certeira e
sem rodeios, afirmou:
“Este é um problema demasiado complexo para se analisar apenas com uma série de números.”
Se no Infarmed, em vez de
recenseamentos, se dessem ao trabalho de investigar a fundo, poderiam seleccionar os temas como ‘Epidemiologia do uso de medicamentos
ansiolíticos e hipnóticos em França e no mundo’ da PublMed.gov, ‘Saúde mental:
fortalecendo a nossa resposta’ da OMS e outras publicações em revistas
e trabalhos científicos.
Chegariam, inevitavelmente, à sondagem das causas da dependência
crescente de populações de tranquilizantes: factores de morbidez e somáticos,
como efeitos naturais do envelhecimento, e em idades menos avançadas os motivos
de ordem biológica associados a fortes pressões de ordem socioeconómico, estas
geradas pela crise económica e financeira. Só que invocar esta última razão,
perante o ministro ex-bancário Macedo e seu governo, não seria politicamente correcto;
ou seja, na definição de um jovem australiano citado por Miguel Sousa Tavares,
o ‘politicamente correcto’ imporia o saber pegar num pedaço de merda pela parte
limpa. É muito complicado, além de um sarilho para 'carreiristas'.
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