Há cerca de uma semana publiquei este
‘post’. Às críticas e comentários formulados a propósito da co-adopção de
crianças por casais do mesmo sexo, citei posições assumidas pelo
ultraconservador patriarca Clemente, como:
“Os direitos das minorias devem ser referendados.” – Um apoio à JSD
e mesmo aos parlamentares do PSD, exceptuando, claro, Teresa Leal Coelho.
“O que está em questão não é o direito de adoptar, mas o direito da
criança de ter ou não ter um pai e uma mãe.”
Com o estatuto de personalidade
intelectual de vulto, desconheço se o novo cardeal patriarca gosta de cinema e,
caso goste, se escrutina, por critérios da fé que professa, os filmes seleccionados.
Por via das dúvidas, permito-me
lançar-lhe uma sugestão: ponha de lado os preconceitos de ordem religiosa e vá
ver o filme ‘Filomena’, actualmente em exibição. Inúmeras razões podem justificar
este desafio; porém, limito-me às seguintes:
®
A história é verídica e a ‘Filomena’ (representada
por Judi Dench) é na vida real Philomena
Lee, irlandesa, católica, de 80 anos de idade, recebida há dias pelo Papa
Francisco.
®
Em 1952, adolescente, teve relações sexuais com
um jovem, com prazer assumido ao longo da vida, mas ignorando a probabilidade
de engravidar que acabou por concretizar-se.
® Grávida, é expulsa pela família e internada no
Convento de Kroscea (Irlanda) das ‘Irmãs do Sagrado Coração’; depois do parto,
é colocada com outras jovens mães na lavandaria do convento, onde trabalha 49
horas semanais (7h x 7d), tendo uma hora diária para, com incontida alegria,
estar junto do filho, Anthony.
®
Um dia, impotente e desesperada, assiste através
de uma janela gradeada à partida de Anthony, então com 4 anos, e da amiguinha
Mary, filha de Kathleen, a companheira com quem mantinha relações de amizade.
®
As crianças, saídas do convento em carro de
luxo, são levadas para os EUA, para adopção por casal de Washington.
Toda esta trama, a troco de 1.000
libras por criança, é dirigida pela Madre Hildegarde. Despótica, repressiva e de
um ilimitado sadismo, Hildegarde, dá origem à incessante e frustrada procura do
filho, por Filomena, durante 50 anos.
A determinada altura conhece um
jornalista desempregado, Martin (Steeve Coogan), que, vencida alguma
resistência inicial, acaba por aceitar acompanhar Filomena aos EUA para
encontrar o filho. Através de contactos, souberam que o filho, rebaptizado então
de Michael Hess, era gay, tendo falecido com SIDA. Fora justamente sepultado
nos terrenos do convento de Kroscea, onde se deslocara diversas vezes a
procurar a mãe.
Por instruções da Madre
Hildegarde, foi sempre dito a Anthony / Michael pelas freiras não existir
qualquer registo alusivo à mãe. Da mesma forma, depois de queimarem
propositadamente documentos, sempre terem assegurado a Filomena não existir qualquer
informação de Anthony.
O jornalista escreve o livro de
toda esta história: "The Lost Child
of Philomena Lee".
O filme tem um conteúdo densamente
dramático, ainda que Judi Dench e Steeve Coogan tenham algumas intermitências
de bom humor. Todavia, é sem dúvida mais um capítulo para o ‘Livro Negro da
Igreja Católica Apostólica Romana’, onde se juntará aos
crimes de furto e venda para adopção de bebés cometidos pela freira espanhola
Maria Gomez Valbuena, falecida há um ano.
Senhor Cardeal Patriarca
Clemente, com estes repugnantes casos, associados à pedofilia e a muitos outros abusos que a opinião pública conhece pior ou desconhece, a ICAR não tem dogmas,
doutrinas, beneditinas ou outras, e teorias que sustentem uma defesa plausível; no lugar,
claro, de nefasta ré, sem direito à presunção de inocência.
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