sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O filme ‘Filomena’- sugestão ao patriarca Clemente

Há cerca de uma semana publiquei este ‘post’. Às críticas e comentários formulados a propósito da co-adopção de crianças por casais do mesmo sexo, citei posições assumidas pelo ultraconservador patriarca Clemente, como:
“Os direitos das minorias devem ser referendados.” – Um apoio à JSD e mesmo aos parlamentares do PSD, exceptuando, claro, Teresa Leal Coelho.
“O que está em questão não é o direito de adoptar, mas o direito da criança de ter ou não ter um pai e uma mãe.”
Com o estatuto de personalidade intelectual de vulto, desconheço se o novo cardeal patriarca gosta de cinema e, caso goste, se escrutina, por critérios da fé que professa, os filmes seleccionados.
Por via das dúvidas, permito-me lançar-lhe uma sugestão: ponha de lado os preconceitos de ordem religiosa e vá ver o filme ‘Filomena’, actualmente em exibição. Inúmeras razões podem justificar este desafio; porém, limito-me às seguintes:
®    A história é verídica e a ‘Filomena’ (representada por Judi Dench) é na vida real Philomena Lee, irlandesa, católica, de 80 anos de idade, recebida há dias pelo Papa Francisco.  
®    Em 1952, adolescente, teve relações sexuais com um jovem, com prazer assumido ao longo da vida, mas ignorando a probabilidade de engravidar que acabou por concretizar-se.
®  Grávida, é expulsa pela família e internada no Convento de Kroscea (Irlanda) das ‘Irmãs do Sagrado Coração’; depois do parto, é colocada com outras jovens mães na lavandaria do convento, onde trabalha 49 horas semanais (7h x 7d), tendo uma hora diária para, com incontida alegria, estar junto do filho, Anthony.
®    Um dia, impotente e desesperada, assiste através de uma janela gradeada à partida de Anthony, então com 4 anos, e da amiguinha Mary, filha de Kathleen, a companheira com quem mantinha relações de amizade.
®    As crianças, saídas do convento em carro de luxo, são levadas para os EUA, para adopção por casal de Washington.
Toda esta trama, a troco de 1.000 libras por criança, é dirigida pela Madre Hildegarde. Despótica, repressiva e de um ilimitado sadismo, Hildegarde, dá origem à incessante e frustrada procura do filho, por Filomena, durante 50 anos.


A determinada altura conhece um jornalista desempregado, Martin (Steeve Coogan), que, vencida alguma resistência inicial, acaba por aceitar acompanhar Filomena aos EUA para encontrar o filho. Através de contactos, souberam que o filho, rebaptizado então de Michael Hess, era gay, tendo falecido com SIDA. Fora justamente sepultado nos terrenos do convento de Kroscea, onde se deslocara diversas vezes a procurar a mãe.
Por instruções da Madre Hildegarde, foi sempre dito a Anthony / Michael pelas freiras não existir qualquer registo alusivo à mãe. Da mesma forma, depois de queimarem propositadamente documentos, sempre terem assegurado a Filomena não existir qualquer informação de Anthony.
O jornalista escreve o livro de toda esta história: "The Lost Child of Philomena Lee".
O filme tem um conteúdo densamente dramático, ainda que Judi Dench e Steeve Coogan tenham algumas intermitências de bom humor. Todavia, é sem dúvida mais um capítulo para o ‘Livro Negro da Igreja Católica Apostólica Romana’, onde se juntará aos crimes de furto e venda para adopção de bebés cometidos pela freira espanhola Maria Gomez Valbuena, falecida há um ano.
Senhor Cardeal Patriarca Clemente, com estes repugnantes casos, associados à pedofilia e a muitos outros abusos que a opinião pública conhece pior ou desconhece, a ICAR não tem dogmas, doutrinas, beneditinas ou outras, e teorias que sustentem uma defesa plausível; no lugar, claro, de nefasta ré, sem direito à presunção de inocência.   

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