quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O problema é eles conhecerem a mansidão dos portugueses

Os tratantes
Sou político apenas na medida em que exerço direitos e cumpro obrigações de cidadania. Este estatuto, apartidário e responsável, franqueia-me o caminho para criticar directa, e se necessário duramente, o povo português.
Este intróito traz-me à memória um acontecimento real com alguém, um engenheiro, que integrava um grupo de caçadores socialmente bens instalados na vida – deslocavam-se em carrinha alugada de 9 alugares com motorista… não fossem os copos complicar a vida de condutor de alguns deles.
O dito engenheiro, antes da placa, a sul de Évora, indicativa de São Manços ordenou, de súbito, que o condutor estacionasse a viatura junto da dita placa. Saiu, tirou um marcador do bolso, e sobre a placa inscreveu a seguir a São Manços: “uns, outros marram”.
Esta história, real repito, compele-me sempre a pensar que o português, manso ou a marrar, é na maioria dos casos conformista, pacífico e dotado de certo estoicismo que, mesmo que o punam material e injustamente, acaba por aceitar o castigo, resignando-se.

A Comissão Europeia e FMI, e outros líderes europeus, já entenderam perfeitamente que, mesmo que deliberem castigar-nos e mandem aplicar a pena ao pérfido governo que temos, só meia-dúzia reage; a maioria fica-se pela mansidão ou marra forte e feio contra uma parede, o mais sólida possível.
Tudo isto vem a propósito do nosso compatriota Barroso, essa repugnante figura ex-MRPP que furtou mobiliário nobre da Faculdade de Direito de Lisboa. Ele está, por certo na origem da pretensa tortura de voltar a cortar os salários dos portugueses entre 2 e 5%, depois dos custos unitários de trabalho terem sido reduzidos de 5,3% desde 2010.
Para este severo castigo, a que muitos portugueses ficarão insensíveis – e se houver um Porto-Benfica ou o inverso, tanto faz, a insensibilidade dilatará -, a CE adianta as seguintes justificações:
·        ajudar a resolver o problema do endividamento externo;
·        combater a taxa de desemprego.
A impudência é de tal ordem que, sendo Portugal um dos países da UE28 de mais baixos salários, para demonstrarem sabedoria de matemática e cálculo económicos, alegam que se consegue a quebra de – 1% na taxa de desemprego, por cada 2,3% de corte de salário – então por que razão o desemprego médio em 2013 aumentou para 16,4% com os custos do trabalho a caírem 5,3% desde 2010?
A pouca vergonha é de tal ordem que o próprio FMI, distanciando-se do receituário da CE sobre o mercado laboral, defende preferentemente o corte de rendas a sectores não sujeitos a concorrência externa – as eléctricas, EDP em especial, e os operadores de telecomunicação. Esqueceram-se certamente das PPP.
A dívida externa, como se sabe, deriva das políticas de recurso a empréstimos lideradas pela “deusa Albuquerque”. Segundo o BdP, em 2013 terminámos com uma dívida pública de 213.390 milhões de euros, i.e., 129% do PIB e acima da previsão de 127,8% do PIB.
A taxa do desemprego resulta dos efeitos causados na Procura Interna (menor poder de compra de reformados, pensionistas e activos, aumento do IVA e falta de crédito bancário).
A conversa já vai longa. É defeito de estilo pessoal, mas também de imposições da minha consciência que sente dificuldades em deixar de lado aspectos essenciais. Por exemplo, em 2013, pagámos perto 8.000 milhões de juros; em Janeiro financiámo-nos a 5,11%, taxa que o governo festejou e que entendo que deveria lamentar; os resultados dos bancos em 2013, mais negativos do que – 2.100 milhões de euros, vai dar origem a que, estando isenta de impostos sobre lucros durante 5 anos, a banca se prepare para inscrever como activos os valores dos impostos a reverter. O BCE não está de acordo e, segundo consta, já abordou o assunto com o BdP no sentido de se eliminarem tais activos – as performances das contas dos bancos levantarão problemas agravados nos ‘testes de estress’.
E para finalizar mesmo, deve-se relembrar que, do empréstimo da troika’, 47 mil milhões foram direitinhos para a banca – 12 mil milhões para recapitalizações e 35 mil milhões para o ‘Fundo de Garantia’. Isto e o resto, tudo por influência dos altos salários e pensões que auferimos! Só uma palavra: ban-di-dos!

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