A credibilidade do FMI é diminuta,
tendencialmente nula. Traga-se à memória o erro de calculadores nos efeitos da
austeridade, denunciado pelos insupeitos Olivier Blanchard e Daniel Leigh:
“Que as medidas de austeridade sejam prejudiciais para o crescimento e
o emprego, é possivel pela maior parte dos economistas. Mas que as mesmas sejam
ainda mais do que aquilo que se imaginava, é o que foi descoberto por ambos de
um conjunto de dois : Olivier Blanchard, um francês economista-chefe do FMI
e Daniel Leigh, economista da mesma instituição. Segundo eles, a utilização de
um mau coeficiente de cálculo manifestou-se na subestimação dos efeitos negativos
da austeridade na Europa.”
Não me parece, pois,
despropositado ter as maiores reservas quanto à notícia ‘Austeridade
retirou 10% do rendimento aos mais ricos e 5% aos pobres’. Em
acréscimo ao trecho do ‘Libération’ e mais incisivamente passo a citar
argumentos, em meu entender, sólidos:
- No cálculo da diferença tributária sobre rendimentos de ‘ricos’ e ‘pobres’, é incluído o IVA; tal inclusão parte naturalmente do erro grosseiro de que os consumos de ‘ricos’ e ‘pobres’ são equivalentes, o que sabemos estar a léguas da verdade. Quantos litros de óleo e outros bens alimentares teria de consumir uma família pobre para suportar um Imposto de Valor Acrescentado idêntico à família abastada que adquire um ‘Porsche’? A resposta, mesmo intuitiva, é óbvia e desmistifica o estudo, pretensamente cientifico, do FMI.
- Tem-se em conta a fuga aos impostos – paraísos fiscais - de que os ricos usufruem? Qual a razão do avultado aumento, em 2013, das fortunas de Amorim, Soares dos Santos e Belmiro, se esses três ‘trabalhadores insuperáveis de intensa actividade’ beneficiaram de rendimentos que, feitas as contas, pouco ou nada contam para a receita fiscal?
- Qual a diferença entre o IRS pago por essa ridícula, rubicunda e incivilizada figura que dá pelo nome de Catroga em relação a um pensionista que sobrevive, a custo e em sofrimento, de uma pensão de sobrevivência?
A encerrar a estas questões, as
quais não tenho a menor veleidade de ver respondidas, refuto a tese ainda dos
cortes que contaram para as contas do FMI – se é que contaram – e que me
parecem relevantes:
- Pensões de ‘velhice e invalidez’ e de ‘sobrevivência’ com mínimos de 259,40 e 155,6 euros mensais e são atribuídas, respectivamente, a cerca de 700.00 e 163.847 idosos - qual é a ponderação equivalente na Grécia?
- O estudo do FMI cobre o período de 2008 a 2012 – o salário mínimo grego variou de 794,02 (2008) para 683,76 euros (2012), ou seja, diminuiu cerca de 14%; em Portugal, passou de 497,00 euros (2008) para 565,83 euros (2012), i.e., aumentou cerca de 14%, mas continua próximo de 13% abaixo do salário mínimo grego.
Uma interpretação de ordem
política: o ‘manifesto da reestruturação da dívida’, subscrito por figuras que
preenchem largo espectro político nacional (exceptue-se o patológico PCP que se
auto-excluiu) incomodou os poderes a que estamos submetidos. Em especial, o
sinistro FMI, nomeadamente através da criadagem ao seu serviço em Lisboa,
durante algum tempo não desistirá da apologia da austeridade. A nós, cidadãos, resta
o sofrimento.
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