A vida recomenda-nos reforçada
prudência em relação a quem, na monotonia no discurso, se revela sempre circunspecto,
artificialmente racional e, sobretudo, resistente a reacções emotivas; isto,
por muito polémico que seja o tema em debate. Este é caso do calvíssimo Vítor Bento, um independente próximo do PSD, maçónico e "Conselheiro de Estado", seleccionado por Cavaco Silva para substituir o arguido do caso BPN, Dias Loureiro.
Vítor Bento, presidente da SIBS, com argumentos próprios de quem,
sem cuidar de respeitar o racional, na AR, no estilo monocórdico que lhe é
peculiar, defendeu a penalização dos utilizadores das caixas multibancos (ATM),
nos seguintes termos:
Sugeriu inclusivamente a
aplicação do Imposto de Selo a essas operações, tendo, a seu lado, o coro dos
representantes da Unicre e da Mastercard, também presentes na sessão. Em
uníssono, rebelaram-se contra o projecto do PS de fazer baixar as comissões
cobradas aos comerciantes, nos pagamentos pelo MB. Claro que o “descaraBento” –
contracção das palavras descaramento e Bento – teve imediata e forte oposição da
Confederação do Comércio e Serviços de Portugal e da Confederação das Pequenas
e Médias Empresas.
Todavia, na arguição, Bento ainda
foi mais ousado:
“A Banca não é um sector lucrativo”
O topete serve-se de uma enorme
falsidade. Os 7.000 M euros de prejuízos da banca devem-se a tudo, menos ao uso
das ATM. Estas máquinas, como afirmei há dias noutro texto, representaram para
os bancos consideráveis economias em custos com pessoal.
Nos últimos 10 anos, a redução de
trabalhadores bancários atingiu vários milhares – as operações de
levantamentos, pagamentos de serviços e ao Estado, recarregamento de
telemóveis, consulta de saldos e outras, feitas pelos clientes, dispensaram a
intervenção de pessoal dos balcões. Todavia, a decapitação de postos de
trabalho na banca não ficará por aqui, uma vez que CGD,
BPI e BCP, e necessariamente outros como o BES, continuam a reduzir balcões e
trabalhadores, a despeito da recapitalização feita à custa dos
contribuintes.
O BCP, se já não o fez,
prepara-se para um corte de salários de 10%. E se houve sector mais
favorecido pelas novas tecnologias – o ‘homebanking’ também conta para as
economias de custos e tempos de trabalho – foi justamente a banca portuguesa
que, por sistemas informáticos sofisticados, realiza diariamente milhares ou
mesmo milhões de operações, muitas das quais a nível internacional, com escassa intervenção humana.
A banca se, no presente, não
constitui um sector lucrativo, deve-se essencialmente a imparidades de crédito
concedido sem critérios prudenciais: os baixíssimos ‘spreads’ no crédito para casa própria, as operações de concessão de financiamento a ‘Berardos’ e muitos mais sob garantias de valor volátil, a aquisição de dívidas
soberanas como a da Grécia e até de dívida portuguesa, de que a ‘troika’ mandou
cobrir parte com imparidades.
A tese de Vítor Bento não é apenas
intelectualmente desonesta, como injusta para os portugueses de contas certas,
que são muitos, e mais uma vez vão ser chamados a compensar os desmandos da
gestão de banqueiros, onde se incluem, por exemplo, as exageradíssimas reformas
pagas a Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto e outros que tais – sei que são
muitos, para além das altíssimas remunerações e prémios pagos a administradores
e quadros superiores no activo.
O que Vítor Bento defende é, de
facto, um inaudito “descaraBento” – só lembraria a calvos, por fora e por
dentro, do tipo dele e certamente do Camilo Lourenço.
(Adenda: a calvície de Vítor Bento, felizmente, não se deve a doença
grave, mas a uma patologia de queda intensa de cabelo conhecida por alopecia; por isso, a citei).
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