Marcha da Dignidade de 22 Março em Madrid
A localização na península Ibérica é único vínculo comum entre Portugal e Espanha. Somos povos de percursos históricos e políticos muito diferenciados. Os portugueses distinguem-se pela retórica. Os espanhóis pela acção.
Seja qual for o canal televisivo com programa dedicado ao comentário político, é impossível em Espanha um comentador tipo Marques Mendes, rábula, videirinho e que se presta ao vil papel de mensageiro do governo na SIC do Dr. Balsemão; a quem, ao fim e ao cabo, o serviço de alcoviteirice também interessa – não se lembre o governo de alienar a RTP e de lhe complicar o negócio.
A mensagem encomendada a Marques Mendes foi dar a conhecer aos portugueses que já há um número para os cortes a aplicar no OGE de 2015. –Esse número oscilará entre 1,5 e 1,7 mil milhões de euros – disse, alegre e servil, a ridícula figurinha. Nem um breve comentário sobre esta política de cortes. Não sabe mais do que trazer e levar.
À mesma hora que o triste Mendes estava no écran a dar “a opinião que conta” – conta para quem e para quê, ò Dr.ª Ruela? – nas imediações da ‘Praza Colon’ em Madrid, e no finalizar de uma jornada de luta, haviam confrontos e manifestações de revolta de cidadãos contra a polícia – 101 feridos e 24 detidos, destes últimos 3 eram menores.
As imagens do vídeo revelam a violência, mas também mostram os milhares que, segundo o ‘El País’, se manifestaram pacificamente durante a tarde, vindos de diversos pontos de Espanha, com palavras de ordem do género:
Não ao pagamento da dívidaNão a mais um corteFora‘troika’!
E formalmente em Espanha nem sequer há ‘troika’.
Por princípio, sou contra a violência. Contudo, é natural que o caldo se entorne com a crise e as desumanas políticas de austeridade que em Espanha geraram cerca de 6 milhões de desempregados, várias dezenas de milhares de desalojados por execução de hipotecas e consecutivos cortes nos gastos sociais.
É impossível que ‘el sangre caliente del pueblo español’ um dia não cause efervescência capaz de maiores proporções e à altura de fazer cair o poder – Catalunha e País Basco estão a caminho da independência e a fragilização da coesão político-territorial também poderá ajudar a um desfecho a que Berlim, e talvez Bruxelas e outras capitais, fingem ignorar.
É impossível que ‘el sangre caliente del pueblo español’ um dia não cause efervescência capaz de maiores proporções e à altura de fazer cair o poder – Catalunha e País Basco estão a caminho da independência e a fragilização da coesão político-territorial também poderá ajudar a um desfecho a que Berlim, e talvez Bruxelas e outras capitais, fingem ignorar.
Na História do Mundo há exemplos, alguns recentes, de que, de súbito, um país ou um território podem mudar de super-estruturas e de orientações políticas, sem processos revolucionários duradouros. O povo espanhol, infelizmente, é mais capacitado para o conseguir de que os portugueses que, sem acreditar no colectivo, partem para os vários cantos do mundo. Sem saudade não sabemos viver.
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