quinta-feira, 6 de março de 2014

A frágil e desunida Europa face à Rússia

A recente obsessão para valer à Ucrânia de parte dirigentes da UE, incluindo o nosso José Manuel, é grave erro político, por diversos motivos, uns mais debatidos do que outros. Observe-se o elenco de algumas realidades mais óbvias, em meu entender:
(1) A integração da Ucrânia na UE, ou mesmo um simples convénio económico, é um objectivo irracional, devido à situação degradada do país, ilustrada pelo gráfico e outros dados publicados por ‘The Economist’:
ukraine
A Ucrânia, devido à destruição do aparelho produtivo, à economia paralela (50% do PIB) e à corrupção, desde há anos que se confronta com uma situação económico-financeira muito complexa. O PIB caiu 15% em 2009, as reservas financeiras foram drasticamente reduzidas e o endividamento externo, 15.000 milhões de empréstimos do FMI p.e., subiu. Beneficia de preços especiais no fornecimento de gás natural pela Rússia.
(2) Tenha-se em consideração que a própria UE, e as suas infra-estruturas, CE e BCE, mais vocacionadas para ajuda a países em dificuldades, são incoerentes na acção com objectivos de coesão no seio da União, por influência do directório alemão. Associado à falta de capacidade em relação países em crise do Sul – Espanha, Grécia, Itália e Portugal -“comprar” um conflito com a Rússia a troco da intromissão em dificuldades políticas e financeiras de um país externo é um acto de aventureirismo e irracionalidade. sem limites.
(3) Do ponto de vista militar, a UE tem nula capacidade, restando-lhe apenas a NATO para o dinamarquês Rasmussen cumprir as directivas dos EUA que, neste como em outros casos, divergem dos interesses europeus.
(4) Nas diversas reuniões havidas em Paris, no campo diplomático, os países do Centro-Norte, Alemanha (22 mil milhões de euros investidos na Rússia), França (a ‘Renault’, com 75% do capital, é a maior accionista do primeiro fabricante russo de automóveis) e o Reino Unido, onde na ‘city’, e em outras zonas londrinas existem 70 empresas de hidrocarbonetos russas, assim como bancos e o Sr. Abramovich, patrão de Mourinho e amigo de Putin.
É neste cenário e perante a aplicação de sanções à Rússia que Merkel, Hollande e outros receiam as ‘contra-sanções’ do regime de Putin. Da retaliação, a UE sairia certamente perdedora. É exactamente por prever este desfecho que há divisões de opinião entre os líderes da desunida União, com a chanceler alemã e outros a defender mediação em vez de sanções.
A Crimeia é um problema histórico e muito complicado que, ao invés de ajudar, mais contraria as veleidades de certos políticos europeus. Da população, 58,5% dizem-se de etnia russa, 22,4% de ucranianos e 12,5% de tártaros. O que se pode esperar disto? A adesão da Crimeia à Federação Russa, não se prestando a haver resultados congéneres ao Iraque, para os quais o José Manuel, embora servindo chá a Bush, Blair e Aznar, contribuiu e foi premiado com a presidência da CE.

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